Mundo “não está preparado” para acabar com combustíveis fósseis, diz ministra de governo anfitrião da COP28

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Reprodução vídeo Reuters

A proposta de estabelecer um cronograma para o fim do consumo de combustíveis fósseis na próxima Conferência da ONU sobre Mudança do Clima (COP28), programada para os Emirados Árabes Unidos no final de novembro, não deve contar com o apoio dos anfitriões do encontro.

O alerta foi dado nesta 4ª feira (10/5) pela ministra de mudanças climáticas e meio ambiente do país árabe, Mariam Almheri. “A energia renovável está avançando e acelerando extremamente rápido, mas não estamos nem perto de poder dizer que podemos abandonar os combustíveis fósseis e depender apenas de energia limpa e renovável”, disse à Reuters.

A oposição dos futuros anfitriões da COP28 à proposta de um phase-out para os combustíveis fósseis deve bater de frente com as pretensões de governos da União Europeia, apoiados por ativistas climáticos, que defendem a definição de um prazo para se acabar com o uso de energia fóssil.

No ano passado, na Conferência de Sharm el-Sheikh (COP27), no Egito, os negociadores chegaram a discutir a inclusão de um compromisso no qual os países pediam redução gradual de todos os combustíveis fósseis, mas isso não foi adiante por pressão contrária de países como Arábia Saudita e China. 

Os países produtores de combustíveis fósseis, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos, vêm insistindo em uma abordagem que privilegia investimentos em tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CSS) como uma saída para reduzir a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, o que, na lógica deles, permitiria a continuidade do uso de energia fóssil.

O próprio presidente designado da COP28, Sultan Al-Jaber, reiterou que as tecnologias de CSS precisam ser “levadas a sério” pelos países, em vez de se concentrarem apenas na substituição dos combustíveis fósseis por energia renovável. “As energias renováveis não são e não podem ser a única resposta. Se levamos a sério a redução das emissões industriais, precisamos levar a sério [também] as tecnologias de captura de carbono”, disse Al-Jaber em evento em Abu Dhabi, citado pela AFP.

É importante lembrar: além de presidente designado da COP, Al-Jaber também é CEO de uma das maiores petroleiras estatais do mundo, a ADNOC. Aliás, até agora, as autoridades dos Emirados Árabes e da Convenção da ONU sobre o Clima (UNFCCC) não explicaram como vão lidar com o óbvio conflito de interesse de ter um executivo petroleiro no comando das negociações climáticas internacionais.

Em tempo: Por falar em conflitos de interesse, o Financial Times informou que a organização dos Emirados Árabes Unidos para a COP28 contratou os serviços de um ex-auxiliar do ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson com histórico, no mínimo, problemático. David Canzini, que atuará na comunicação da COP, se opôs durante a gestão Johnson a medidas climáticas como a criação de uma taxa sobre o lucro das empresas de combustíveis fósseis. Além disso, Canzini também tem relação profissional com um grupo lobista da indústria petroleira na Austrália.

ClimaInfo, 11 de maio de 2023.

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