A disputa pela exploração de petróleo e gás fóssil na Foz do Amazonas

Petrobras foz do Amazonas estudos
Apolo11.com

Segue a queda-de-braço entre Petrobras e IBAMA em torno da licença ambiental para a exploração de poços de petróleo na foz do rio Amazonas. Enquanto a direção da petroleira vem intensificando a pressão nos bastidores do governo federal, as preocupações de indígenas e ribeirinhos que podem ser afetados pelo empreendimento continuam ignoradas.

No Brasil de Fato, Murilo Pajolla descreveu a apreensão de lideranças tradicionais, ativistas e especialistas com os impactos da exploração petroleira na região, uma área extremamente sensível do ponto de vista socioambiental. A falta de estudos mais amplos por parte da Petrobras sobre os riscos potenciais da obra, cobrados pelo IBAMA para viabilizar a licença, aumentam o grau de preocupação.

Além dos impactos diretos, como o risco de vazamentos de óleo, o empreendimento também pode ter reflexos indiretos no desmatamento de Terras Indígenas e Unidades de Conservação, já que a economia da energia fóssil deve atrair a atenção de grileiros e outros forasteiros.

“A gente sabe que a Petrobras não vai contratar a maioria dessas pessoas [locais], porque há uma demanda por mão de obra qualificada. Onde elas vão parar? Não são todas, mas muitas vão entrar ilegalmente na Terra Indígena. A gente fica preocupado de que possa acontecer algo semelhante à [invasão de garimpeiros] na Terra Yanomami”, disse Kassia Galibi, presidente da Associação Nana Kali’nã, do Povo Galibi-Kali’nã.

Os interesses da Petrobras na foz do Amazonas são sentidos também em Brasília. O Estadão destacou a posição da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e de seu colega de Esplanada na pasta de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Enquanto Marina vem respondendo às pressões da Petrobras sobre o IBAMA de forma a resguardá-lo, Silveira faz coro ao presidente da empresa, Jean Paul Prates, na defesa do empreendimento e de um processo de licenciamento célere.“Há um discurso infelizmente contraditório por parte do governo, que é o que a gente chama de paradoxo verde”, observou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Schaeffer, à RFI. “Em certo sentido, começa a haver um movimento de acelerar o máximo possível a produção de petróleo hoje para não se ficar com o mico na mão, afinal há uma sociedade de consumo que demanda bens e serviços que ainda não conseguiu se livrar do petróleo. E isso é uma enorme contradição: para lidar com a mudança climática, você eventualmente vai aumentar as emissões hoje para não ser o último a ficar com petróleo no chão, não explorado”.

ClimaInfo, 12 de maio de 2023.

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