Criticado, comando da COP28 apela a bots para melhorar imagem nas redes sociais

COP28 bots
COP28 Bonn Junho/23 REUTERS / Jana Rodenbusch

Alvo de ambientalistas e observadores por conta dos conflitos de interesse na organização da COP28, o governo dos Emirados Árabes Unidos está recorrendo a um instrumento comum em campanhas de desinformação para melhorar sua imagem nas redes sociais – contas falsas automáticas, os famosos bots.

De acordo com o Climate Home, dezenas de contas individuais que simulam ser de cidadãos dos Emirados Árabes têm inundado o Twitter com posts positivos sobre a COP28, os organizadores da conferência e seu futuro presidente, o executivo da indústria petroleira Sultan Al-Jaber. Em muitos casos, essas contas também atacam usuários como jornalistas e ativistas de Direitos Humanos que criticam o governo do país e a organização da COP.

“Isso é definitivamente organizado”, disse Marc Owen Jones, especialista de desinformação digital da Universidade Hamad bin Khalifa, do Catar. Ele identificou pelo menos cem usuários suspeitos de serem bots a serviço dos organizadores da COP28, todos criados em fevereiro de 2022. “Sempre que há conteúdo negativo sobre a COP, eles entram em ação para tentar equilibrar a narrativa”.

Mas não são apenas os bots que tentam resguardar a imagem da COP28 e de seu futuro presidente, Al-Jaber. O secretário-executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, também se desdobrou para defender o nome de Al-Jaber para o comando da Conferência de Dubai, apesar de suas conexões com a indústria dos combustíveis fósseis.

“Uma pessoa, uma entidade, um país não tem todas as respostas. [Isso] requer a contribuição e o conhecimento de todos. Ter a experiência de Al-Jaber, seu conhecimento da indústria, o que ele fez tanto no setor de petróleo e gás quanto em energias renováveis, dá a ele uma visão única”, disse Stiell à AFP.

Na mesma linha, o diretor-geral da COP28, Majid Al Suwaidi, defendeu Al-Jaber, dizendo que ele está “perfeitamente posicionado” para chefiar as negociações climáticas da ONU. “Precisamos de uma mentalidade de resultados. Estou nessa negociação há anos. Nunca realmente engajamos o setor privado para perguntar como eles podem trabalhar conosco para fazer isso. Na COP28, estamos fazendo esse diálogo”, disse à Reuters.

Enquanto a COP28 segue em situação ambígua, outro tópico discutido nos corredores da sede da UNFCCC em Bonn nesta semana é a definição das sedes das próximas Conferências do Clima. Enquanto a COP30 de 2025 parece mesmo encaminhada para acontecer em Belém do Pará, no Brasil, a COP29 ainda está órfã.

Segundo o Climate Home, os países do Leste Europeu, região do globo que receberia a COP29 no ano que vem, pelo revezamento geográfico adotado pela UNFCCC, não conseguiram fechar uma posição sobre o anfitrião do encontro. A Bulgária é apoiada pelos integrantes da União Europeia, mas vem sendo vetada pela Rússia por conta do apoio do bloco continental à Ucrânia na guerra entre os dois países. Os outros dois candidatos, Armênia e Azerbaijão, são recém-saídos de um conflito armado em torno do enclave de Nagorno-Karabakh.Em virtude das divisões no Leste Europeu, existe a possibilidade de que a UNFCCC “pule” a região e passe a organização da COP29 para algum país asiático, continente que deve receber a COP31 em 2026. As candidatas para a Conferência são a Austrália, com apoio dos pequenos países insulares do Pacífico, e a Turquia.

ClimaInfo, 7 de junho de 2023.

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