Lítio, desenvolvimento ou nova “maldição” para a América Latina?

lítio América Latina
Jorge Villegas / Xinhua

O “ouro branco” é crucial para a eletrificação dos transportes, estratégia-chave para eliminar combustíveis fósseis e reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor. Mas o lítio, matéria-prima fundamental para baterias elétricas, também vem mexendo no tabuleiro geopolítico global e provocando debates sobre os impactos ambientais e socioeconômicos de sua exploração.

A América Latina detém mais da metade das reservas já descobertas do mineral. A maior parte delas está concentrada no “triângulo do lítio”, formado por Bolívia, Argentina e Chile. Por isso, enquanto novos projetos de extração são anunciados, os países decidem se vão focar na sua exportação para países ricos ou investir no desenvolvimento da indústria local. Também debatem se vão usá-lo como recurso natural estratégico, do Estado, ou se abrirão a exploração para investidores estrangeiros – além dos aspectos ambientais, explica a Folha.

“[Precisamos] evitar abordar o tema de uma perspectiva colonial”, discursou Daniel Filmus, ministro argentino da Ciência e Tecnologia, no lançamento do primeiro ônibus elétrico a bateria de lítio do país. Enquanto isso, os chineses chegam com bilhões de dólares na região e incomodam Estados Unidos e Europa, lembra o BNamericas.

As mineradoras chinesas Tibet Summit, Ganfeng Lithium, Tsingshan e Zijin Mining estão injetando milhões de dólares na indústria argentina de lítio. No Chile, a Tianqi Lithium tenta obter a aprovação da autoridade antitruste para um acordo que lhe daria uma participação majoritária na empresa local SQM, e a BYD se prepara para construir sua primeira fábrica de materiais catódicos. Na Bolívia, o consórcio chinês formado por CBC, Citic Guoan e TBEA Group avança na incorporação de tecnologias de extração direta para acelerar a produção em salmouras de lítio.

O Brasil, que em 2015 praticamente não tinha produção do mineral, hoje chega a 2% do mercado mundial pela perfuração de rochas, método mais rápido e menos dependente do clima que a evaporação, porém mais caro. Segundo o Estado de Minas, 85% das reservas brasileiras estão no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, uma das regiões mais pobres do país.

As autoridades mineiras estão ansiosas para aproveitar o potencial do metal. No mês passado, promoveram um evento repleto de alarde na sede da Nasdaq, em Nova York, onde lançaram uma iniciativa para atrair investimentos para o que chamam de “Vale do lítio”, lembra o Poder 360.Entretanto, como mostra o France24, nem todos estão tão empolgados como os políticos (só para variar). Moradores da região de cerca de 1 milhão de habitantes reclamam do impacto ambiental da mineração de lítio e que as comunidades locais não estão sendo incluídas. “Aqui é o Vale do Jequitinhonha… Querem chamar de ‘Vale do Lítio’. Mas não vamos colocar os interesses da mineração acima da identidade do nosso povo”, diz Aline Gomes Vilas, 45, ativista local na cidade de Araçuaí.

ClimaInfo, 20 de junho de 2023.

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