Campanha global pede o fim da exploração de combustíveis fósseis

Usina a carvão Janschwalde, na Alemanha Crédito: Wirestock

Eventos e marchas em diversos países são previstos para setembro. Objetivo é pressionar indústrias e governos por ações concretas para acabar com extração e queima de carvão, petróleo e gás.

Organizações globais lançaram, em junho, uma campanha internacional para demandar o fim gradual dos combustíveis fósseis. Chamada de “Global Fight to End Fossil Fuels“, a mobilização culminará em eventos e marchas em diversos países, de 16 a 17 de setembro, para pressionar indústrias e governos por um plano e ações imediatas para abandonar o carvão, petróleo e gás.

A data foi estabelecida de acordo com a Cúpula de Ambições Climáticas do Secretário-Geral das Nações Unidas, que irá reunir líderes mundiais em Nova Iorque no dia 17 de setembro. Neste mesmo dia, pretende-se realizar a Marcha para O Fim de Novos Combustíveis Fósseis e uma greve climática global, articulada conjuntamente com o movimento Fridays for Future.

A iniciativa acontece em meio a um momento emblemático na agenda socioambiental internacional: a próxima Conferência das Partes (COP 28) será sediada nos Emirados Árabes Unidos, que planeja expandir sua extração de fósseis nos próximos anos, e presidida por Sultan Al-Jabe, um dos líderes da indústria petrolífera. 

O cenário vai na contramão das recomendações científicas que mostram como o uso de carvão, petróleo e gás agrava o aquecimento global e também prejudica a saúde da população – a poluição é responsável por aproximadamente 9 milhões de mortes por ano, correspondendo a uma em cada seis mortes no mundo.

Mas nada disso parece importar para as cinco grandes petrolíferas mundiais (Total Energies, ExxonMobil, Chevron, BP e Shell) que, só em 2022, somaram US$ 200 bilhões de lucros. Elas não estão pagando pelo alto impacto que causam no planeta. São as populações do Sul Global que arcam com o alto preço das consequências das mudanças climáticas pelas quais não são responsáveis.

Por isso, o movimento Global Fight to End Fossil Fuels elenca seis principais demandas para ocorrer uma transição justa do carvão, petróleo e gás: 

  • Sem novos combustíveis fósseis, sem novos financiamentos públicos ou privados, sem novas aprovações, licenças, autorizações ou extensões. Cobra-se a provisão de financiamento climático consensual suficiente para realizar esse compromisso em todos os lugares.
  • Uma eliminação gradual, rápida, justa e equitativa da infraestrutura existente de acordo com o limite de temperatura de 1,5°C e um plano global, como um Tratado de Combustíveis Fósseis, para garantir que cada país faça sua parte.
  • Novos compromissos de cooperação internacional para aumentar drasticamente as transferências financeiras e de tecnologia para garantir o acesso à energia renovável, planos de diversificação econômica e processos de transição justa para que todos os países e comunidades possam eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.
  • Fim do greenwashing e de afirmar que compensações são as soluções para a crise climática.
  • Responsabilização dos poluidores pelos danos que causaram, garantindo que as empresas de carvão, petróleo e gás paguem reparações pelas perdas e danos climáticos e pela reabilitação, remediação e transição locais.
  • Acabar com a captura corporativa de combustíveis fósseis. Não às corporações que escrevem as regras da ação climática, financiam negociações climáticas ou minam a resposta global às mudanças climáticas.

No Brasil, o fóssil também avança

Embora a matriz elétrica brasileira seja majoritariamente composta por fontes renováveis, projetos que impulsionam os combustíveis fósseis estão a todo vapor.  

Um exemplo aconteceu em 2021, quando houve a contratação de 14 térmicas a gás fóssil em um leilão emergencial; e a aprovação da lei de privatização da Eletrobrás, naquele mesmo ano, com a inclusão de alguns ‘jabutis’ – entre eles, o do gás, que obriga o país a contratar 8 GW de usinas termelétricas nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

Entidades nacionais têm se mobilizado para enfrentar o problema, como a Coalizão Energia Limpa, que objetiva excluir o uso do gás fóssil do mix de fontes de energia para a geração de eletricidade no Brasil até 2050, e agrupa seis organizações: Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Instituto Internacional Arayara, Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e Instituto ClimaInfo.

Além disso, o lobby empresarial e político para explorar petróleo e gás na Margem Equatorial, na Foz do Amazonas, é cada vez mais intenso. O Ibama negou a licença para um bloco específico, mas recentemente até o BNDES defendeu a exploração e a falaciosa sentença de que isso seria essencial para a ‘transição energética’ do Brasil.

Texto: Bárbara Poerner, ClimaInfo

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