Transição energética no Brasil passa longe do gás fóssil

Os defensores do programa “Gás para Empregar”  [quem???] e do uso do gás fóssil como “ponte” para a transição energética deveriam ler o artigo de Suzana Kahn, da COPPE/UFRJ, no Valor. De forma técnica e clara, ela explica o óbvio: apostar nessa alternativa no Brasil é caro, poluente e irracional.

“Para a Europa, os Estados Unidos e outros países, o gás é uma fonte de energia que pode ser usada na transição energética, já que é abundante e com custo competitivo. Este, porém, não é o caso do Brasil. Em nossa matriz energética, já com enorme parcela de fontes renováveis, o aumento do uso do gás para gerar eletricidade nos levaria para direção contrária à transição, pois é também um combustível fóssil, que gera emissões de carbono.”

A análise de Kahn não é nova e foi apontada pelo estudo “Vulnerabilidades do setor elétrico brasileiro frente à crise climática global e propostas de adaptação”, da Coalizão Energia Limpa. Além de mostrar que não há sentido econômico e ambiental em investir na produção de eletricidade à base de gás fóssil, o trabalho reitera que a melhor opção de geração elétrica para o Brasil é um sistema hidro-solar-eólico.

“As mudanças climáticas vão impactar cada vez mais o sistema brasileiro de energia, tornando o abastecimento frágil. Precisamos investir em resiliência, adaptação e diversificação. Contudo, isso deve ser feito sem novos investimentos em fósseis e com resguardo dos Direitos Humanos e dos Povos Tradicionais. O Brasil pode exercer um papel estratégico na geopolítica global, sendo pioneiro na transição energética viabilizada a partir de um sistema hidro-solar-eólico. Isto permitiria a redução dos custos da energia elétrica e uma maior competitividade global dos produtos brasileiros, o que, por sua vez, contribuiria para a retomada da economia e a redução das desigualdades sociais”, ressalta o relatório.

Quanto ao uso industrial do gás fóssil, Kahn explica que “teria sentido se fosse com custo baixo. Caso contrário, nossa indústria perderia competitividade global”. O que não é o caso do Brasil, cujas reservas de gás fóssil, em sua grande maioria, são associadas ao petróleo, e em alto mar.

“O Brasil deve ser criativo na busca de uma industrialização moderna, seguindo um modelo próprio e em consonância com suas riquezas naturais. O que é bom para a Europa e para os Estados Unidos não nos atende necessariamente. Nós podemos seguir um modelo de industrialização mais original, de vanguarda, baseado nas fontes de energia abundantes e variadas que temos”, avalia a especialista.

ClimaInfo, 3 de julho de 2023.

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