Ministério de Minas e Energia (MME) e Petrobras podem até se estranhar por causa da oferta de gás fóssil ao mercado – o primeiro quer mais, a segunda diz que não tem. Mas, na hora em que o assunto é explorar petróleo em áreas com altíssimo risco ambiental, como a Margem Equatorial e a Foz do Amazonas, em particular, as diferenças ficam de lado. E há até quem queira usar “mão firme” para garantir a exploração dessa energia suja.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou a Guilherme Amado, do Metrópoles, que o projeto de perfurar poços de petróleo na bacia da foz do Amazonas não está perdido. Segundo ele, as conversas com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, de Marina Silva, e o IBAMA, de Rodrigo Agostinho, têm “corrido bem”.
O executivo rejeitou a tentativa de ser colocado em uma posição antagônica à de Marina. “Houve tentativas infrutíferas de colocar a mim e a ministra em polos opostos”, disse ele. Enquanto aguarda a nova análise do IBAMA sobre a foz, a estatal se prepara para perfurar poços na área de Pitu, na bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte, na outra ponta da Margem Equatorial.
Se Prates levanta uma “bandeira branca” para a área ambiental do governo, o MME chega com o pé na porta. Ao ler um discurso enviado pelo ministro Alexandre Silveira para a cerimônia de assinatura de contratos de blocos de partilha de produção, o secretário-executivo do ministério, Efrain Cruz, disse que o Brasil atuará com “mão firme” para cumprir etapas ambientais e avançar na exploração de petróleo e gás na Margem Equatorial. Segundo a Folha, a pasta está empenhada, apesar da negativa do IBAMA.
Cruz repetiu a velha ladainha de comparar os “desafios” da região com o pré-sal. Só esqueceu que, no pré-sal, os leilões foram suspensos porque, em seu segundo mandato como presidente, Lula mudou o modelo de oferta, de concessão para partilha, por causa do imenso volume de petróleo descoberto. Não se tratava de uma área ambientalmente sensível, como é a margem.
Pior foi o secretário do MME destacar que é fundamental o Brasil aumentar a produção de petróleo para “ter êxito” na transição energética, informam Terra e Investing.com. Repete, assim, a fala da diretora do BNDES, Luciana Costa, que este artigo do ClimaInfo mostrou ser totalmente falaciosa.
Especialista nos recifes de corais da foz do Amazonas, o oceanógrafo Thomás Banha alerta sobre outro perigo: o negacionismo científico. Estudos seus e de outros pesquisadores comprovam a existência do grande recifal amazônico, mas há quem use fontes e métodos científicos para negar isso. Só que, mais do que pontos de vista científicos distintos, o que há por trás são interesses econômicos.“No caso dos recifes da foz, o negacionismo está diretamente ligado à exploração de petróleo. Alguns grupos que se beneficiariam da exploração vêm tentando diminuir a importância desse ecossistema, afirmando que não é relevante, questionando diversos aspectos como a vitalidade, a extensão e até mesmo sua existência”, explica, em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos.
ClimaInfo, 7 de julho de 2023.
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