EUA e China buscam reaproximação em negociações climáticas

John Kerry in China
Brendan Smialowski / AFP

O enviado especial dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, chegou à China neste domingo (16/7) para uma visita que visa retomar a cooperação entre os dois países na agenda climática internacional. Os maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta ainda estão distantes por conta das tensões geopolíticas, mas procuram restabelecer o diálogo bilateral antes da Conferência do Clima de Dubai (COP28), no final do ano.

A relação entre Washington e Pequim sofreu abalos significativos nos últimos anos. Depois de protagonizarem a articulação política em torno do Acordo de Paris, em 2015, EUA e China se distanciaram durante a passagem de Donald Trump pela presidência norte-americana, entre 2017 e 2021, marcada pela guerra comercial e pela imposição de tarifas a produtos de origem chinesa.

Mais recentemente, em 2022, a visita oficial da então presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, à Taiwan elevou as tensões bilaterais, com o governo chinês rompendo a cooperação com a Casa Branca em todos os níveis, inclusive nas negociações climáticas. Mesmo com a retomada parcial do diálogo entre os dois países durante a COP27, a situação segue travada.

Em audiência pública na Câmara, Kerry ressaltou que busca ter “conversas francas” com as autoridades chinesas e progredir em pontos específicos da agenda climática, como o acordo para redução das emissões de metano até 2030. “O que queremos fazer é encontrar maneiras de ver se a China e os EUA podem promover a causa juntos para o resto do mundo, acelerando as taxas de redução, aumentando a implantação de energias renováveis e melhorando o gerenciamento da rede”, disse o ex-secretário de estado do governo Obama.

Na agenda de Kerry, estão conversas com representantes do governo chinês e com seu contraparte de Pequim, o diplomata Xie Zhenhua. Na Bloomberg, o consultor de políticas do Greenpeace Ásia, Li Shuo, ressaltou que o foco da passagem de Kerry pela China é a retomada do diálogo, mais do que qualquer elemento substancial da agenda climática. “É importante observar nesta visita se há outras etapas previstas, quais são essas etapas e quão explícitas serão as etapas estabelecidas por ambos os lados”, disse. BBC, CNN, NY Times e Reuters também abordaram a ida de Kerry à China.

Ainda sobre a audiência de Kerry na Câmara norte-americana, um dos pontos que mais chamou a atenção foi a negativa contundente dada pelo enviado especial para o clima à possibilidade dos EUA pagarem qualquer tipo de “reparação” a outros países em decorrência dos impactos da mudança climática. Durante uma fala do deputado republicano Brian Mast, Kerry foi incisivo ao dizer que “não, sob nenhuma circunstâncias” os EUA pagariam “algum outro país porque ele teve uma inundação ou furacão”.

A negativa de Kerry chamou a atenção de ativistas climáticos, que interpretaram a fala como uma rejeição dos EUA ao fundo de perdas e danos, aprovado na COP27 e para o qual se espera que o governo norte-americano destine recursos no futuro. No entanto, como explicou Alden Meyer, da consultoria E3G, ao site Climate Home, a escolha das palavras por Kerry não foi acidental.

“[Os EUA] sempre rejeitaram qualquer sugestão de responsabilidade ou dever de fornecer compensação por suas emissões históricas”, disse Meyer, que também lembrou o peso da palavra “reparação” no contexto político norte-americano – bastante associada aos pedidos de reparação às populações de origem africana por causa do passado de escravidão.

Tanto que, na própria audiência, Kerry fez questão de diferenciar a questão de perdas e danos dessa armadilha retórica. “[O fundo] é simplesmente um reconhecimento (…) não tem nenhuma responsabilidade nele – nós especificamente colocamos frases que negam qualquer possibilidade de responsabilidade, mas está lá para tentar ajudar algumas dessas áreas menos desenvolvidas vulneráveis do problema que eles estão enfrentando”, disse.

BBC e NY Times também abordaram a fala de Kerry na Câmara dos EUA.

ClimaInfo, 17 de julho de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.