Falta de informações sobre apagão cria guerra de versões e mobiliza lobbies

apagão e renovável
Divulgação

A demora na divulgação das explicações sobre apagão dá contornos políticos em tema técnico e é usada por defensores de combustíveis fósseis para atacar renováveis.

A falta de clareza sobre as causas do apagão que na 3ª feira (15/8) atingiu 25 estados brasileiros e o Distrito Federal abriu espaço para lobbies e guerra de narrativas que estão se voltando até contra o próprio Operador Nacional do Sistema (ONS). Pelo protocolo, o ONS deveria ter apresentado na manhã de 5ª feira (17/8) o Boletim de Interrupção do Suprimento de Energia (BISE). O documento, porém, não foi divulgado, informa a Folha.

O que o operador fez nesse dia foi divulgar o Informe Preliminar de Interrupção de Energia no Sistema Interligado Nacional (IPIE). Nele, o ONS confirma que foi identificada uma falha na linha de transmissão 500 kV Quixadá II/Fortaleza II, no Ceará, operada pela Chesf, subsidiária da Eletrobras, relatam Correio Braziliense e Canal Energia. Contudo, como reforça a CNN, isso não seria suficiente para causar o blecaute. E o ONS terá até 45 dias úteis para apresentar seu relatório final.

Na falta de informações, há especialistas que afirmam que ainda vão descobrir que houve falha em alguma subestação, como Imperatriz (MA) ou Xingu (PA). Outro segmento, mais ligado às hidrelétricas, já cogitam que o próprio ONS pode ser parte do problema, por ser responsável pelos despachos elétricos, determinando a entrada ou saída das fontes de geração no sistema.

Enquanto isso, ganharam força versões, sobretudo dos defensores das termelétricas a gás fóssil, envolvendo eólicas do Nordeste no apagão, com acusações de pane por excesso de produção, súbita falta de ventos e até queda de torres. O que não procede, explica a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Élbia Ganoum.

“Não teve problema na geração, e podia ser eólica, carvão ou nuclear que dava no mesmo. Tem gente tentando aproveitar a situação para colocar a culpa na eólica e facilitar os projetos de lei no Congresso com jabutis para encher o país de térmicas. Isso eu não vou admitir. Acabou a brincadeira.”

Ainda assim, o ONS disse ter reduzido carregamento das linhas de transmissão e adiado manutenções programadas como forma de garantir o fornecimento elétrico, informam Valor, InfoMoney, Poder 360 e UOL.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse, em entrevista n’O Globo, que o governo vai fazer reforços no sistemas de transmissão porque, se não o fizer, “teríamos que limitar a produção de eólica e solar”. Misturou a necessária expansão das conexões, que deve acompanhar o crescimento da produção elétrica, com uma insinuação de que somente novas linhas podem dar segurança às fontes eólica e solar.

g1 e Folha também trataram dos últimos desdobramentos do apagão.

Em tempo: O governo federal publicou na 5ª feira (17/8) o decreto que cria o programa “Energias da Amazônia”, para reduzir a geração de energia elétrica via combustíveis fósseis nos sistemas isolados da região e, por consequência, as emissões de gases de efeito estufa na Amazônia Legal, informam Estadão, epbr, Poder 360, Canal Energia, Agência Brasil e O Liberal. A medida busca também melhorar a qualidade e a segurança do fornecimento elétrico na região e reduzir os custos da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), que deve fechar o ano em cerca de R$ 12 bilhões, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

 

ClimaInfo, 21 de agosto de 2023.

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