Dia do Cerrado: destruição do bioma ameaça segurança hídrica do Brasil

Cerrado Berço das Águas
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O Cerrado é conhecido como “Berço das Águas” e se destaca pela biodiversidade. Mas também pelos altos índices de desmatamento, o que ameaça seu título.

O Dia do Cerrado é comemorado em 11 de setembro. Mas, nessa data em 2023, o bioma, chamado de “Berço das Águas” por abrigar nascentes de oito das 12 maiores bacias hidrográficas do país, pede socorro. O desmatamento crescente não ameaça apenas a vegetação nativa, mas também seus recursos hídricos – o que pode comprometer a oferta de água em todo o país.

O Cerrado fornece cerca de 70% da água do Rio São Francisco e 47% da água do rio Paraná, que abastece a hidrelétrica de Itaipu, a segunda maior planta do tipo no mundo. Suas águas são importantes ainda para Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. As informações são do estudo publicado na Sustainability em fevereiro passado que apontou os riscos que a devastação do bioma pode causar para a segurança hídrica e energética do país, relembra a Agência Brasil.

Uma das principais causas de desmatamento no Cerrado é a atividade agrícola, que ocupa cerca de 25,5 milhões de hectares e cresceu mais de 500% desde 1985, mostram dados do MapBiomas. Somando-se as áreas usadas para plantio e para pastagem de animais, a agropecuária se estende por cerca de 75,5 milhões de hectares, informa o Correio Braziliense.

“A magnificência do Cerrado não ressalta aos olhos da sociedade brasileira. O que acontece hoje no Cerrado com a soja, com o algodão, com o milho, com o boi e com a cana-de-açúcar reflete a história recente da Mata Atlântica, o bioma mais devastado do Brasil, com o café, a cana-de-açúcar e com o boi”, avalia Reuber Brandão, professor de Manejo de Fauna e de Áreas Silvestres da UnB, em artigo n’((o))eco.

Há uma grande expectativa pelo lançamento de um plano de ação contra a devastação no bioma, nos moldes do recém-retomado PPCDAm, voltado para a Amazônia – que, estando mais no foco, acaba afetando a situação do Cerrado, mostra a Agência Brasil. Mas, para Mauricio Voivodic, diretor-Executivo do WWF-Brasil, estancar a destruição no Cerrado depende mais do setor privado: “Temos na preservação do Cerrado a prova de fogo dos compromissos das grandes empresas. Diferente da Amazônia, a redução do desmatamento no Cerrado depende menos do governo e mais do engajamento do setor privado, que, para isso, já conta com inúmeras ferramentas de rastreabilidade que permitem o controle de origem dos produtos agropecuários e verificação de conformidade socioambiental. O que falta é a decisão objetiva de não comprar de áreas desmatadas”, diz, em artigo no Valor.

A indústria processadora e exportadora de soja anunciou que está adotando a partir da safra 2023/24 uma medida para impedir a produção da oleaginosa em áreas abertas sem autorização no Cerrado, informa a Globo Rural. Chamada de Controle de Supressão Autorizada (CSA Cerrado), a iniciativa se baseia em monitoramento de áreas de desmatamento no bioma. Mas como alerta o Observatório do Clima, na principal fronteira agropecuária do país os processos de autorização de desmatamento feitos por estados e municípios estão fora de controle. Estudos e relatos de fiscais no campo mostram que as autorizações têm sido emitidas a toque de caixa, em volume e velocidade que impedem o monitoramento dos órgãos ambientais, sem transparência nem controle social. Resultado: desmates recordes.

Em tempo 1: A queima controlada, feita para eliminar a matéria orgânica acumulada no solo, pode ajudar a prevenir grandes incêndios no Cerrado. Esse conhecimento é parte das práticas ancestrais de Povos Indígenas e Quilombolas, que usam queimas pontuais para limpar de áreas de cultivo, estimular a rebrota e a frutificação de algumas plantas e prevenir incêndios. O Cerrado é considerado a savana mais biodiversa do mundo – estima-se que tenha mais de 12 mil espécies de plantas, sendo que 4.000 são endêmicas, e ao longo de milhares de anos, essa vegetação evoluiu junto com o fogo eventual, causado por raios na estação chuvosa. Assim, não só as espécies são adaptadas para resistir às chamas como algumas precisam delas para o seu desenvolvimento. E é esse tipo de dinâmica que o manejo integrado do fogo (ou MIF, como é conhecido) busca reproduzir, explica a Folha.

Em tempo 2: Não é por acaso que os desmatadores estão deixando a Amazônia. Com o aumento das ações de fiscalização e combate a atividades criminosas na região pelo governo, a perda material dos criminosos tem sido imensa, detalha o Um só planeta. Em oito meses, um total de 3.574 máquinas utilizadas por garimpeiros e madeireiros foi retirado de atividade. Desse total, 2.938 equipamentos foram apreendidos pelos fiscais ambientais. O volume é 46% superior à média verificada no mesmo intervalo dos últimos quatro anos do governo do inominável, que ficou em 2.006 apreensões por ano.

 

ClimaInfo, 12 de setembro de 2023.

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