OPEP rejeita perspectiva de pico da demanda global por petróleo na próxima década

OPEP demanda petróleo
Tan Kaninthanond / Unsplash

Na contramão de estimativas recentes, cartel de países produtores de petróleo prevê um aumento de 16% no consumo de combustíveis fósseis nas próximas duas décadas.

A descarbonização parece não ter lugar no radar da principal entidade que reúne países produtores de petróleo. Uma análise divulgada nesta 2ª feira (9/10) pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) prevê que a demanda por combustíveis fósseis seguirá aumentando nos próximos 20 anos, sem sinal de que ela atingirá um pico – numa cristalina comprovação das intenções das empresas do setor de se oporem ao enfrentamento da emergência climática.

De acordo com a OPEP, o transporte rodoviário, a indústria petroquímica e a aviação impulsionarão a demanda por combustível em 16% até 2045, com o consumo total atingindo 116 milhões de barris diários. A maior parte dessa expansão será puxada pela Índia, cujo consumo duplicará para quase 12 milhões de barris por dia.

A estimativa da OPEP bate de frente com outras análises que sugerem a possibilidade de um pico da demanda por petróleo na próxima década, a partir do qual o consumo diminuiria paulatinamente por conta da maior oferta de fontes renováveis de energia.

A Agência Internacional de Energia (IEA) indicou recentemente que o pico do consumo de energia fóssil poderá acontecer antes de 2030. Na mesma linha, uma análise da petroleira BP do começo do ano sugeriu que o pico global da demanda por petróleo acontecerá em algum momento ao final desta década.

A divulgação das projeções da OPEP para o mercado global de petróleo coincidiu com um encontro em Riad entre representantes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Iraque, os três maiores produtores de petróleo que integram o cartel. Como esperado, os porta-vozes defenderam uma abordagem mais cautelosa para a transição energética, com espaço para a energia fóssil: “Não podemos desligar o sistema energético atual antes de construirmos o novo sistema do amanhã. Simplesmente não é prático nem possível”, disse Sultan al-Jaber, CEO da petroleira ADNOC e (nas horas vagas) presidente-designado da próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP28). “Temos que separar os fatos da ficção, a realidade da fantasia, o impacto da ideologia, e temos que garantir que evitaremos as armadilhas da divisão e da distração”.

A “fantasia” criticada por al-Jber é a redução imediata do consumo de combustíveis fósseis, defendida por cientistas como o último caminho para viabilizar o limite de 1,5ºC de aquecimento global neste século em relação aos níveis pré-industriais. Essa deve ser uma das demandas mais fortes de ativistas climáticos na COP28, o que representa um desafio para o futuro presidente da Conferência, bastante criticado por suas conexões com a indústria petroleira.

Bloomberg, CNBC, EFE e Oil Price destacaram os principais pontos do World Oil Outlook da OPEP. Já Folha, Independent, Reuters e RFI abordaram a fala de al-Jaber no encontro de Riad.

 

ClimaInfo, 10 de outubro de 2023.

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