Rumo à COP28: falta liderança climática, sobra incerteza política

COP28 petrolífera
Montagem ClimaInfo UNFCC COP28 / Pixabay

Desafios políticos e diplomáticos se acumulam na agenda da COP28 e os principais emissores e países mais ricos não se movem para liderar o processo. 

Começou a contagem regressiva para a Conferência do Clima de Dubai (COP28), que começa exatamente daqui a um mês nos Emirados Árabes. O cenário prévio não é agradável: com duas grandes guerras acontecendo simultaneamente (uma delas, aliás, no Oriente Médio), as divergências são mais fortes do que as convergências entre os países na agenda de negociação. O que sobra em termos de polêmica está faltando em liderança política por parte dos governos.

Antes de entrar nos detalhes da falta de liderança, uma pausa para reflexão. “A guerra é hoje, acima de tudo, um acelerador do colapso ambiental em curso, e isto por duas razões”, analisa o professor da UNICAMP Luiz Marques em um artigo imperdível sobre a geopolítica atual. “Em primeiro lugar, [a guerra] aumenta as emissões de gases de efeito estufa (GEE), intensificando a desestabilização do sistema climático”. Segundo as estimativas levantadas por Marques, “se as despesas militares globais anuais fossem um país, esse ‘país’ seria o quarto maior emissor de GEE do planeta, após a China, os EUA e a Índia.” E Marques segue: “O segundo modo pelo qual a guerra acelera o processo em curso de colapso socioambiental é o de dificultar ainda mais uma governança global do clima e da biodiversidade”, o que nos leva de volta aos fatos mais recentes que demonstram esta última afirmação de Marques.

A frustração mais recente aconteceu nas conversas em torno do futuro fundo de compensação para perdas e danos. O grupo negociador encarregado de formular uma proposta para aprovação na COP não conseguiu chegar a um acordo sobre o desenho do fundo, com países desenvolvidos e em desenvolvimento trocando acusações. Os negociadores tentarão mais uma rodada emergencial de discussão no começo de novembro para tentar destravar a proposta antes da COP.

Mas a sensação de paralisia também se faz presente em outros itens da agenda de negociação, especialmente aqueles relacionados ao financiamento climático e à ambição dos compromissos nacionais de mitigação. Mais uma vez, a divergência principal acontece entre países ricos e pobres, o que enfraquece a confiança entre esses atores e dificulta a costura de acordos diplomáticos.

Essa dificuldade também se observa nas discussões sobre o fim da produção e consumo de combustíveis fósseis. A proposta deve ser levantada pela União Europeia para ser abordada na COP28, mas a China alertou que os países não devem perder tempo discutindo  “slogans vazios”. Para os chineses, propostas “divorciadas da realidade e de ‘tamanho único’ podem parecer ambiciosas, mas prejudicam o processo multilateral climático”. A Reuters abordou essa posição.

Outro exemplo da paralisia acontece na definição em torno da sede da próxima COP29, no ano que vem. A guerra entre Rússia e Ucrânia colocou Moscou e os países da União Europeia em lados opostos, o que impediu um consenso entre as nações do Leste Europeu sobre o anfitrião da COP de 2024.

A Reuters informou que os Emirados Árabes, que alguns especularam como uma alternativa para receber a COP29, não pretendem sediar mais uma rodada de negociação. Com isso, aumenta a probabilidade da Conferência acontecer em Bonn, na Alemanha, onde fica a sede do Secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

 

ClimaInfo, 30 de outubro de 2023.

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