Desmatamento cresceu em projeto de créditos de carbono da Envira Amazônia comprados pela Petrobras

19 de dezembro de 2023
Petrobras lucros
Agência Petrobras

Para conseguir vender uma gasolina premium carbono neutro, a petroleira adquiriu créditos de projeto Envira Amazônia, no Acre, onde a devastação aumenta desde de 2017.

Em setembro, a Petrobras anunciou que sua gasolina Podium se tornará “carbono neutro”, sendo a primeira gasolina do país com “suas emissões compensadas desde a origem até o consumo”. A neutralidade se baseava na aquisição de créditos de carbono do projeto Envira Amazônia, no Acre.

Já na largada, a Folha apontou que alguma coisa estava fora da ordem com o Envira. Agora, a pedido da Folha, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) confirmou o que já tinha sido apontado há cerca de cinco meses: o projeto gerador de créditos de carbono para a Petrobras vem apresentando desmatamento crescente.

A sistematização do IPAM foi feita com base no Sistema PRODES, do INPE. Os dados mostram que o desmatamento na área do Envira Amazônia passou a aumentar a partir do quinto ano de implementação da iniciativa, chegou ao ápice em 2020 e voltou a crescer em 2022. O desmate na área do projeto foi de 6,8 hectares em 2011 e de 16,5 hectares em 2012, ano em que teve início o empreendimento para geração de créditos de carbono. Em 2017, foram 23,3 hectares desmatados.

A perda de vegetação seguiu maior que nos anos de 2018, 2019 e 2020, quando atingiu 106,5 hectares. Em 2021 houve queda de quase 50% no desmate, que ficou em 53,7 hectares, mas em 2022 a devastação cresceu quase 15% sobre o ano anterior, fechando em 61,4 hectares. O levantamento do IPAM mostra então que os dados de desmatamento a ser evitado – usados como base para cálculo dos créditos – podem ter sido inflados. O projeto chegou a prever um desmate evitado de 7.000 a 32.205 hectares somente no primeiro ano da iniciativa, muito superior ao que ocorria na prática.

O Envira Amazônia é desenvolvido pela CarbonCo, com sede nos Estados Unidos, e JR Agropecuária e Empreendimentos, de Rio Branco, como consta nos documentos cadastrados na Verra – a certificadora dos créditos adquiridos pela Petrobras. Procuradas pela Folha, nenhuma das empresas quis se manifestar.

A Petrobras não foi a única empresa controlada pelo governo a fazer negócios envolvendo o Envira. Em outubro, o Banco do Brasil fez uma operação inédita de intermediação de créditos de carbono no mercado internacional. A negociação envolveu a compra de 5 mil créditos de carbono do projeto, operado no mercado secundário pelo BNP Paribas, e a venda para o Standard Chartered no exterior, detalhou o Valor.

Em tempo: Em busca de consenso com os governadores da Amazônia Legal, o relator do projeto de lei que regulamenta o mercado brasileiro de carbono, deputado Aliel Machado (PV-PR), retirou do texto o trecho que inviabilizava os estados a venderem créditos gerados em todos os seus territórios, inclusive em áreas privadas, no mercado voluntário, informam Folha e Estadão. Esse foi o principal ponto de entrave na tramitação do texto na Câmara dos Deputados, que pretendia ter aprovado a regulação antes da COP28. Na versão anterior, o relatório determinava que os programas de crédito de carbono de entes públicos se destinariam apenas a áreas de posse, domínio e usufruto públicos. Agora, prevê que os sistemas estaduais de crédito de carbono podem englobar todo o território do estado.

 

ClimaInfo, 20 de dezembro de 2023.

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