Renováveis para quê? Petrobras vai ao Oriente Médio buscar parcerias em combustíveis fósseis

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Exploração e produção de petróleo e gás fóssil, GNL, petroquímica e Braskem foram os temas das conversas do presidente da estatal brasileira com petroestados árabes.

Na semana anterior ao Carnaval, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi ao India Energy Week 2024. No evento, disse novamente que manter [leia-se “ampliar”] a produção de petróleo é preciso para financiar a transição energética. De lá, partiu para petroestados do Oriente Médio, a fim de garantir parcerias da petroleira brasileira com estatais de petróleo e gás fóssil desses países. O foco foram combustíveis fósseis, a Refinaria baiana de Mataripe (ex-RLAM) e a Braskem. Ao que se sabe, não se falou de fontes renováveis de energia nos encontros.

Uma das reuniões de Prates em sua incursão em países árabes foi com Sultan Al Jaber, em Abu Dhabi. Presidente da COP28, Jaber fez o que pôde para não incluir os combustíveis fósseis no texto do Global Stocktake da conferência do clima e é o CEO da estatal ADNOC, dos Emirados Árabes Unidos.

Além de oportunidades nas áreas de petroquímica, refino, gás offshore e mercados de combustíveis, Al Jaber e Prates conversaram sobre a Braskem, cujas minas vêm provocando o afundamento de vários bairros de Maceió e o deslocamento de milhares de pessoas. A estatal brasileira é sócia minoritária da Braskem, mas precisa aprovar a venda da fatia majoritária da Novonor. E a petroleira de Al Jaber está interessada no negócio, informam Valor, Poder 360, InfoMoney e O Globo.

Vale um outro parênteses sobre Al Jaber: ele também é ministro da Indústria e Tecnologia dos Emirados Árabes. E chairman da Masdar, estatal de energias renováveis daquele país. Acordos em fontes limpas de energia, porém, parecem não ter feito parte das conversas com Jean Paul Prates.

Na Arábia Saudita, o presidente da Petrobras visitou a Saudi Aramco, a maior petroleira do planeta em produção de combustíveis fósseis, para analisar oportunidades no mercado de combustíveis na América Latina e no Caribe, destacam Valor e UOL. Em postagem no Xwitter, Prates disse que há a possibilidade de juntar “esforços na concepção de uma nova visão do mercado revendedor e distribuidor de combustíveis e lubrificantes”.

Também no X, o CEO da Petrobras anunciou que a estatal vai trabalhar por parceiras com três empresas do Kuwait, onde também esteve: a Kuwait Petroleum (KPC) e suas subsidiárias Companhia de Indústrias Petroquímicas (PIC, na sigla em inglês) e Companhia de Exploração de Petróleo no Exterior do Kuwait (KUFPEC), segundo Valor e InfoMoney. A KUFPEC deve abrir uma filial no Brasil, segundo Prates.

A ausência das fontes renováveis no périplo de Jean Paul Prates pelo Oriente é mais um lance da “Babilônia” apontada por Marcelo Coutinho, professor da UFRJ e analista sênior de hidrogênio. Em artigo no Correio Braziliense, o especialista usa a antiga civilização como exemplo de erro capital e soberba para justificar que, com essas e outras ações, as autoridades querem fazer do Brasil uma potência emissora de carbono, e não uma potência sustentável, como costumam pregar.

“Nenhuma narrativa cínica é mais forte do que os fatos. E os fatos nos dizem que o Brasil age como um petroestado, um estado carvoeiro, e um estado usineiro, frontalmente contra as belas frases destinadas a engabelação da opinião pública. Posam na ONU de mocinhos, mas são cada vez mais os vilões de eventos climáticos extremos que podem destruir o mundo como o conhecemos. Isso não é alarmismo, é ciência, e o nosso próprio dia a dia, de forma estampada nas tragédias cotidianas crescentes. E de nada adiantará reduzir as emissões de carbono no fornecimento de energia elétrica se elas aumentam em todo o resto”, sentencia Coutinho.

Em tempo: Seguindo o seu projeto de ser uma das últimas produtoras de petróleo e gás fóssil do planeta, a Petrobras anunciou ter concluído a compra de participações em blocos exploratórios de combustíveis fósseis em São Tomé e Príncipe, na África Ocidental, e acertou acordos que tornam a estatal brasileira parte dos consórcios que atuam sobre os ativos. A petroleira adquiriu 45% de participação nos blocos 10 e 13 e 25% de participação no bloco 11, informa a CNN.

 

 

ClimaInfo, 19 de fevereiro de 2024.

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