Gás fóssil e carvão no Brasil e as emissões do setor energético

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Ao contrário de vários países, o Brasil reduziu as emissões do setor elétrico em 2023, mas lobby da geração a combustíveis fósseis ameaça esse ganho.

As emissões do setor energético bateram recorde em 2023, crescendo 410 milhões de toneladas (1,1%) sobre o ano anterior e totalizando 37,4 bilhões de toneladas. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), boa parte desse aumento foi resultado de secas severas, que afetaram os reservatórios de hidrelétricas em todo o mundo. Com menos água nessas usinas, vários países tiveram de acionar termelétricas movidas a combustíveis fósseis para garantir a demanda elétrica. E com isso jogaram mais CO2 na atmosfera.

A notícia não é boa para a urgência que temos de reduzir a quantidade de gases de efeito estufa e assim tentar limitar o aquecimento global a 1,5ºC sobre as temperaturas pré-industriais. E traz também um lado perverso: a produção de eletricidade limpa pelo setor energético foi reduzida por estiagens resultantes de uma combinação entre o El Niño e o agravamento das mudanças climáticas. E é justamente o setor energético um dos principais emissores do planeta, agravando a crise climática.

Mas, por mais incrível que pareça, há motivos para comemorar, mostra a IEA. Primeiro, houve uma queda no ritmo de crescimento das emissões do setor energético em relação a 2022. E o PIB global aumentou 3%, em média, muito mais que as emissões energéticas. Uma prova de que o crescimento econômico não precisa gerar mais poluição atmosférica.

Esse descolamento entre aumento do PIB e emissões tem um “culpado”: energias renováveis. A agência mostra que a capacidade global de energia eólica e solar fotovoltaica cresceu quase 540 GW em 2023, aumento de 75% em relação a 2022 e um novo recorde. Além disso, as vendas globais de carros elétricos subiram para cerca de 14 milhões, 35% mais que no ano anterior. Não fosse a aceleração das fontes renováveis na matriz global, o crescimento das emissões energéticas teria sido três vezes maior desde 2019.

As fontes renováveis de energia são sabidamente uma das soluções para frear o aquecimento global e as mudanças climáticas. É por isso que o Banco Mundial anunciou que vai triplicar seus fundos de garantias para investimentos em energia renovável em países emergentes, alcançando US$ 20 bilhões até 2030. 

E como está o Brasil nesse processo? Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o setor elétrico brasileiro registrou no ano passado seu menor nível de emissões de GEE desde 2011. Com as fontes solar e eólica crescendo a passos largos e reservatórios hidrelétricos cheios, o país ficou bem na foto em 2023.

Mas o risco de o país voltar a sujar mais sua matriz elétrica está aumentando. De um lado, o Senado vai votar o projeto de lei das eólicas offshore, uma fonte renovável, mas no qual deputados incluíram incentivos à geração à base de gás fóssil e carvão. De outro, produtores e comercializadores de gás fóssil e geradores de eletricidade com combustíveis fósseis estão aumentando o alarde quanto a uma possível queda dos reservatórios hidrelétricos por causa do volume de chuvas mais baixo que o habitual. A solução para eles? Acionar mais termelétricas a gás fóssil, seja ele produzido no Brasil ou importado. 

A geração elétrica por combustíveis fósseis vai doer no bolso do consumidor. É uma energia muito mais cara que a gerada nas hidrelétricas e nas usinas eólicas e solares. Sem falar, claro, nas emissões do setor elétrico brasileiro, que vão aumentar se isso acontecer.

A necessidade fez o Brasil ser um dos países do mundo que mais investiram em fontes renováveis de energia, mesmo quando ainda pouco se sabia sobre os efeitos das emissões de gases de efeito estufa sobre o clima do planeta. Agora que a relação é mais do que evidente, não há motivo para recuar. 

Com vento e sol de sobra, o país tem de continuar ampliando a oferta de energia renovável para suprir nossas necessidades e definir um cronograma para eliminar os combustíveis fósseis de sua matriz energética. É o que se espera de uma nação que quer ser protagonista na agenda climática global e exemplo a ser seguido no G20. Ainda mais agora que está presidindo o grupo das maiores economias do planeta.

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Por Alexandre Gaspari, Jornalista no ClimaInfo.

 

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ClimaInfo, 4 de março de 2024.

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