Era da Fervura 1: calor supera meta do Acordo de Paris

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Copernicus Climate Change Service/ECMWF

Com novo recorde registrado em fevereiro, temperatura média global dos últimos 12 meses ficou 1,56ªC acima dos níveis pré-industriais, rompendo barreira do Acordo de Paris.

O ano de 2023 foi o mais quente da história. Mas, pelo andar da carruagem – leia-se queima dos combustíveis fósseis no planeta, que não cede apesar da extrema necessidade de que isso aconteça –, 2024 caminha a passos largos para tomar esse título. Ainda mais com as previsões de que o El Niño, apesar de enfraquecido, vai continuar agravando as mudanças climáticas e aumentando as temperaturas até o meio do ano.

O mais recente indicativo da “Era da Fervura Global”, como bem definiu o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi dado pelo Copernicus, serviço de monitoramento climático europeu. Por quatro dias seguidos – de 8 a 11 de fevereiro –, a temperatura média global ficou 2°C acima dos níveis registrados antes da Revolução Industrial, destaca o Observatório do Clima. Foi a maior sequência de temperaturas acima de 2°C já registrada, disse o diretor do Copernicus, Carlo Buontempo, acrescentando que o calor foi “notável”, reforça o France24.

Segundo a organização, fevereiro foi o mês mais quente já registrado no planeta. Com isso, a temperatura global bateu recorde pelo 9º mês consecutivo. Com 9 meses seguidos de temperaturas recordes, não chega a ser surpresa que tenhamos superado os 1,5°C do Acordo de Paris. Pelos cálculos do observatório europeu, a temperatura média global dos últimos 12 meses [março de 2023 a fevereiro de 2024] superou em 1,56°C os registros dos níveis pré-industriais. Mais preocupante impossível.

Em outra comparação, a temperatura média do planeta no mês passado foi 0,81°C acima dos níveis do período de 1991 a 2020, informa o Guardian. E 0,12°C acima do recorde anterior para o mês, registrado em fevereiro de 2016, segundo o g1.

“Fevereiro se junta à longa sequência de recordes dos últimos meses. Por mais notável que isto possa parecer, não é realmente surpreendente, uma vez que o aquecimento contínuo do sistema climático leva inevitavelmente a novos extremos de temperatura”, reforçou Buontempo, em fala destacada pela CNN.

Na Europa, as temperaturas em fevereiro ficaram 3,3°C acima da média do mês no período 1991-2020, com termômetros bem acima da média na Europa Central e Oriental. Com isso, o inverno europeu 2023/2024 foi o segundo mais quente já registrado no continente, de acordo com o Euronews, com 1,44°C acima da média, atrás apenas do inverno 2019/2020. No entanto, alguns países tiveram um inverno muito mais quente este ano do que anteriormente.

Os dados não mentem. Mas não custa reforçar a gravidade da situação, como bem faz Friederike Otto, professora sênior de ciências climáticas no Instituto Grantham para Mudanças Climáticas e Meio Ambiente do Imperial College London.

“Existem muitas evidências apontando para o fato de que nosso planeta está esquentando. Se você quiser negar as mudanças climáticas, você também pode afirmar que a Terra é plana. Bilhões de medições obtidas de estações meteorológicas, satélites, navios e aviões apontam para o fato básico de que nosso planeta está aquecendo a um ritmo perigoso.”

E completa: “As pessoas não deveriam se surpreender por termos quebrado outro recorde. Os humanos continuam queimando petróleo, gás e carvão, por isso o clima continua aquecendo. É uma relação muito bem compreendida. Não existe solução mágica para as mudanças climáticas. Sabemos o que fazer: parar de queimar combustíveis fósseis e substituí-los por fontes de energia mais sustentáveis ​​e renováveis. Até que façamos isso, os eventos climáticos extremos intensificados pelas alterações climáticas continuarão a destruir vidas e meios de subsistência.”

O novo recorde global de temperatura foi noticiado por diversos veículos, como CBS, New Scientist, Bloomberg, Independent, Fox Weather, RFI, DW, Forbes, Axios, BBC, CBC, New York Times, Washington Post, ABC, AP, SBT e Terra, entre outros.

 

 

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ClimaInfo, 8 de março de 2024.

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