Recife e Rio, que sofrem cada vez mais com eventos extremos, ainda têm “dívidas climáticas”, enquanto as eleições no RS pós-enchentes têm clima de descrença.
As mudanças climáticas já são uma preocupação real da população brasileira. Com 2024 marcado por inundações nunca antes vistas no Rio Grande do Sul, seca histórica em boa parte do país, incêndios florestais de norte a sul e ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas, era de se esperar que a agenda do clima fosse incluída de forma definitiva nos programas de candidatos a prefeitos e vereadores. Mas o tema, quando aparece, é tratado de forma vaga, o que exige atenção dos eleitores no momento de escolher seus candidatos.
E há muitas dívidas climáticas. A comunidade Jardim Monte Verde, que fica na divisa do Recife com Jaboatão dos Guararapes, foi a que mais registrou mortes durante as tempestades que atingiram a região em maio de 2022: 44 pessoas perderam a vida. Os moradores contabilizam 754 famílias atingidas por perdas totais e/ou parciais dos imóveis. Só que até agora, mais de dois anos depois da tragédia, elas dizem que ninguém recebeu unidades habitacionais. Pessoas cujas casas viraram escombros ou foram condenadas pela Defesa Civil disseram à Agência Pública que também não receberam indenizações – muitos moradores sequer tiveram acesso ao auxílio-aluguel.
Um ano após as primeiras enchentes no Rio Grande do Sul, que devastaram o Vale do Taquari em setembro do ano passado, as eleições municipais ocorrem sob clima de descrença da população nas cidades mais atingidas pela tragédia. Nas ruas de Roca Sales quase não havia evidências de uma campanha já em curso oficialmente. Entre os moradores, muitos dos quais perderam tudo duas vezes em menos de um ano, o sentimento era de indignação, destaca a Folha.
O pleito atrasou medidas de recuperação das cidades, por insegurança jurídica para autorizar gastos com obras ou pela priorização das campanhas. No campo das promessas, candidatos propõem como soluções a dragagem de rios, a realocação de casas ou a criação de sistemas de alerta – mais do mesmo.
Em Porto Alegre, o tema central é o sistema de proteção contra cheias, cujas falhas de projeto, de execução e de manutenção ficaram evidentes nas imagens da capital alagada. O prefeito Sebastião Melo (MDB), que tenta a reeleição, reconheceu que, quatro meses depois da tragédia, a cidade não tem estrutura para enfrentar calamidade semelhante.
Temporais e calor costumam ser comuns no Rio de Janeiro, mas a cada ano aumenta a intensidade e a frequência desses eventos por causa das mudanças climáticas. Exemplo disso é que a cidade registrou a maior temperatura do ano na 4ª feira (2/10), com 39,9°C, informam SBT e TV Cultura.
Em junho, a prefeitura do Rio deu início a um protocolo de níveis de calor. Com cinco escalas, a medida é utilizada para orientar a população a evitar atividades externas e procurar por pontos de refrescamento em dias com alta temperatura e umidade. O plano prevê até o cancelamento de eventos com grandes aglomerações.
O protocolo entrou em vigor quase 7 meses após a morte da estudante de psicologia Ana Clara Benevides, de 23 anos, em um show da cantora Taylor Swift na cidade, por causa do calor extremo. Desde então, destaca a Agência Pública, ainda não foi posto à prova. Nenhum evento foi cancelado por causa do calor, porque a cidade não alcançou os níveis mais críticos desde que foi lançado. Mas, pelo recorde de temperatura registrado ainda no início da primavera, esse momento deve chegar em breve.
Em tempo 1: Enquanto as estações do ano mostram que não são mais as mesmas, os candidatos indígenas tentam convencer os eleitores de que as mudanças climáticas afetam a todos e que o conhecimento dos Povos Originários é um aliado nesse combate, destaca a Repórter Brasil. Um exemplo é Almir Suruí, líder do Povo Paiter Suruí que é candidato pelo PDT a prefeito de Cacoal (RO). Ele diz que a emergência climática precisa ser debatida com mais seriedade e cobra as autoridades para fortalecerem não apenas o conhecimento científico e tecnológico, mas também o saber tradicional indígena como instrumento de desenvolvimento para a Amazônia.
Em tempo 2: Mais de meio milhão de eleitores ribeirinhos e de comunidades da Amazônia devem enfrentar dificuldades para votar no próximo domingo (6/10), em razão da seca extrema que atinge várias localidades. O Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) estima que serão mais de 40 mil, e 116 locais de votação estão comprometidos, principalmente nas regiões do Baixo Amazonas e do Arquipélago do Marajó. Para garantir a logística eleitoral, o órgão adotou medidas inéditas, como o uso de carroças e embarcações de pequeno porte, já que muitas áreas ficaram isoladas pela falta de água nos rios, informa a Mídia Ninja.
ClimaInfo, 4 de outubro de 2024.
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