
Após atingir rapidamente a categoria 5, a pior na escala que avalia os efeitos dos furacões, em sua passagem pelo Golfo do México, Milton atingiu a costa oeste da Flórida, na altura da Baía de Tampa, no fim da noite de 4ª feira (9/10) como um furacão de categoria 3. Mesmo antes de tocar a terra, a tormenta provocou tornados em diversas partes do estado, com resultados também trágicos. Além das mortes e dos estragos materiais, Milton deixa outra certeza: as mudanças climáticas, causadas principalmente pela queima de combustíveis fósseis, farão eventos extremos como ele serem mais frequentes. E cada vez mais intensos.
Milton é o sistema mais recente de uma temporada de tempestades que os cientistas dizem ser a mais estranha que já viram, destaca a AP. Antes dele houve Beryl, que se tornou a primeira tempestade registrada no ano a atingir o status de categoria 5. Mas houve uma “calmaria” recorde entre 20 de agosto – o início tradicional do pico da temporada de furacões, iniciada em junho – até 23 de setembro, segundo o pesquisador de furacões da Universidade Estadual do Colorado, Phil Klotzbach.
De repente, cinco furacões surgiram em dez dias, entre 26 de setembro e 6 de outubro, mais que o dobro do antigo recorde, de duas tormentas. No domingo e na 2ª feira (6 e 7/10) havia três furacões ao mesmo tempo no Atlântico Norte – além de Milton, Kirk, que rumava para a França [leia abaixo], e Leslie, cuja previsão era se transformar numa tempestade tropical e não chegar à terra, segundo O Globo. A situação nunca tinha acontecido antes, disse Klotzback.
Milton atingiu a costa em Siesta Key, no condado de Sarasota, por volta das 20h30 de quarta-feira. Oito horas depois, moveu-se para o mar, ao norte de Cabo Canaveral, no leste da Flórida, como um furacão de categoria 1, com ventos de 135 km/h, de acordo com o National Hurricane Center (NHC). No meio da tarde de 5ª feira (9/10) o NHC rebaixou-o para um ciclone pós-tropical, à medida que ele se afastava do estado, mas alertou que ainda havia riscos significativos em andamento, ressalta o Guardian.
Pelo menos 12 pessoas morreram em decorrência da passagem do furacão, incluindo cinco vítimas de tornados gerados pela tempestade no condado de St. Lucie. No entanto, o governador da Flórida, Ron DeSantis, disse que esperava mais vítimas fatais.
A CNN chamou de “inundação milenar” as chuvas provocadas por Milton em determinadas áreas do estado. Isso porque em St. Petersburg, ao norte de Sarasota, a tempestade despejou mais 450 mm de chuva, índice de precipitação com probabilidade de ocorrência de 1 em 1000 anos na região.
Milton ainda deixou mais de 3 milhões de pessoas sem energia. Rajadas de vento de 160 km/h foram registradas perto de Tampa. Os ventos arrancaram o telhado do Tropicana Field, estádio programado para ser um abrigo temporário para os socorristas.
Os danos de Milton são assustadores, mas talvez não sejam surpreendentes, destaca o npr. E um dos principais motivos é que as mudanças climáticas estão tornando as tempestades mais intensas. Helene, que passou pela Flórida e mais 5 estados dos EUA há cerca de duas semanas e deixou mais de 200 mortos, é mais um exemplo que confirma a regra.
De acordo com a Administração Atmosférica e Oceânica Nacional (NOAA), o ano de 2023 viu temperaturas recordes de água no Atlântico Norte e no Golfo do México, e neste ano não foi diferente. Temperaturas mais altas das águas oceânicas significam tempestades mais poderosas. Além disso, o aumento do nível do mar – causado pelo derretimento do gelo na Groenlândia e na Antártica, por exemplo – intensifica o poder de destruição das tempestades.
“Furacões supercarregados não são mais exceções, desastres estranhos ou tempestades do século. A poluição por combustíveis fósseis os tornou um elemento fixo da vida ao redor do mundo, e eles vão piorar – com milhões de pessoas em sua mira”, ressaltou no New York Times Porter Fox, autor de “Categoria Cinco: Supertempestades e os oceanos aquecidos que as alimentam” e que passou três anos na cobertura de eventos climáticos extremos.
A passagem do furacão Milton pela Flórida teve ampla cobertura da imprensa, com matérias em Financial Times, Bloomberg, New York Times, USA Today, CBS, Washington Post, Reuters, NBC, Wall Street Journal, ABC, UOL, g1e BBC, entre outros veículos.
Em tempo: Seine-et-Marne, a leste de Paris, estava em alerta vermelho na 5ª feira (9/10) para inundações após os remanescentes do furacão Kirk trazerem fortes chuvas para o norte da França. Em Montigny le Bretonneux, a oeste da capital francesa, chegaram a cair até 80 milímetros de chuva, enquanto em partes dos Alpes do sul foram registrados até 130 milímetros. A tempestade trouxe ventos de até 120 km/h, informam Bloomberg, France24, Reuters, BBC e Le Monde. Kirk foi um dos três furacões que se formaram simultaneamente no Atlântico Norte, junto com Milton e Leslie, mas enfraqueceu para um ciclone pós-tropical. Ainda assim, também desencadeou alertas vermelhos de condições climáticas no oeste da Alemanha e em Luxemburgo enquanto se movia para leste ontem.