Alexandre Silveira não vê contradição ambiental em importar gás fóssil produzido por fracking na província argentina e volta a defender que Brasil invista na técnica.
O G20 começou com dúvidas sobre a posição da Argentina nas negociações envolvendo clima, financiamento, taxação de superricos e até gênero. Mas a incerteza não foi suficiente para travar um acordo com o governo brasileiro envolvendo o gás fóssil produzido em Vaca Muerta, na província de Neuquén – ou seja, um combustível fóssil (não custa repetir), extraído do subsolo por fraturamento hidráulico [fracking], que é uma técnica com imenso impacto ambiental e social e banida em vários países.
Além disso, para o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, não há contradição em firmar um memorando de entendimento para trazer esse gás para o Brasil na cúpula de líderes do grupo das 20 maiores economias do mundo que tem como um de seus motes a sustentabilidade. Em coletiva de imprensa após o acordo, Silveira inclusive voltou a defender o uso do fracking no Brasil.
Para Silveira, o gás fóssil argentino é um passo importante para o programa “Gás para Empregar”, lançado pelo governo brasileiro supostamente para promover a “reindustrialização” brasileira com “descarbonização”. Sim, ele continua considerando o gás fóssil como um “combustível de transição”. E ressaltou que “estamos falando de transição, não de mudança”, para manter sua defesa já conhecida da exploração de combustíveis fósseis.
Isso, claro, inclui o petróleo. Questionado sobre informações do Plano de Negócios da Petrobras 2025-2029 (leia mais aqui), que aumentou as cifras para exploração de combustíveis fósseis, mas não menciona renováveis, o ministro deixou claro que a prioridade é a “autossuficiência”. “Se a gente parar de produzir petróleo vai ter que andar de carroça ou importar”, disse.
Embora Silveira não tenha mencionado nominalmente, suas falas reiteram a pressão pela exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas. E seguindo o lugar-comum criado pelas petroleiras, o ministro afirmou que “não é uma questão de oferta, mas de demanda”. Ou seja, a culpa é do consumidor.
As renováveis passaram longe das falas do ministro, a não ser pelo fato de repetir vez sim, outra também, que o Brasil tem uma das matrizes energéticas “mais limpas do mundo”. Mas a energia nuclear marcou [forte] presença. Silveira disse que a fonte será “imprescindível” para fornecer eletricidade para data centers e IA. E até mesmo para sistemas isolados da Amazônia, como já havia defendido.
O Globo, Folha, Estadão, Valor, Money Times, Correio Braziliense, Exame, Reuters e Bloomberg noticiaram o acordo entre Brasil e Argentina para o gás de Vaca Muerta.
__________
ClimaInfo, 19 de novembro de 2024.
Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.