Após rompimento de barragem de garimpo ilegal, ribeirinhos do Amapá temem passar fome

Governo do Amapá coletou amostras nos rios Cupixi e Araguari, mas demora na divulgação dos resultados colabora para descrença de parte dos ribeirinhos sobre riscos.
24 de fevereiro de 2025
rompimento barragem garimpo ilegal
Divulgação Governo Amapá

Os senadores amapaenses Davi Alcolumbre (União Brasil), presidente do Senado, e Randolfe Rodrigues (PT), líder do governo na casa, integram a “tropa de choque” que pressiona o IBAMA pela liberação da licença para Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, localizado no litoral do estado. Contando com royalties que, se vierem, não chegarão antes de 2031, eles dizem que a exploração de petróleo vai levar “desenvolvimento” ao Amapá.

O que Alcolumbre, Randolfe e outros políticos do estado, como o governador Clécio Luís (Solidariedade) ignoram são as atividades criminosas que estão roubando as riquezas do estado e afetando a vida dos amapaenses. Há cerca de 15 dias, uma barragem de garimpo ilegal rompeu, levando rejeitos para os rios Cupixi e Araguari, nos municípios de Pedra Branca do Amapari e Porto Grande.

Na semana passada, agentes da Delegacia do Meio Ambiente do Amapá estiveram em Pedra Branca do Amapari para coletar novas amostras do rio Cupixi, relata o g1. Moradores de Porto Grande denunciaram a coloração diferente do curso d’água, que tem ligação com os rios Araguari e Amapari. Os três fazem parte da circulação da economia dos dois municípios.

No entanto, a necessidade de se alimentar tem feito os cerca de 4.000 moradores afetados pela contaminação não atenderem à recomendação do governo estadual de suspender a pesca, mesmo com o reconhecimento de situação de emergência pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. E a demora na divulgação dos resultados da análise da água colabora para a descrença de parte dos ribeirinhos em relação a riscos, informa a Folha.

“Não tenho condição de comprar comida todos os dias. A carne está cara, a galinha também”, diz o pescador Antônio Magave, 65 anos, da comunidade de Cupixi, em Porto Grande. Ele contou que sua família manteve o consumo de peixes. “A gente tem que consumir do rio, não tem peixinho morto nenhum, então eu vou pegar e vou comer. Eu só não posso vender”, ressaltou. “Não dá pra ficar comprando comida”, desabafou.

Extrativista de açaí e castanha em Cupixi, José Raimundo Rigor, de 52 anos, disse aguardar os resultados para voltar a consumir peixe. Ele temia a insegurança alimentar, como também a contaminação de sua família – cinco filhos, uma delas grávida de cinco meses, além de quatro netos.

“Eu espero que isso acabe logo e que tenha um resultado. A gente tem esse costume de pegar o peixe para comer, é uma tradição nossa da comunidade. Todo dia sai a turma, que se encontra no rio, para pescar”, relatou.

Voltando à exploração de petróleo na foz do Amazonas tão desejada pelos políticos do Amapá, não se sabe se há mesmo volumes comerciais, e se houver, quanto renderão de royalties. Mas se sabe as perdas com o garimpo ilegal.

Segundo a Polícia Federal, em quatro anos, a área do maior garimpo ilegal do estado aumentou cerca de 4,2 mil hectares. Nesse período, teriam sido extraídas ilegalmente duas toneladas de ouro, o que equivale a R$ 642 milhões. Riqueza roubada nas barbas dos políticos amapaenses.

  • Em tempo: A StoneX, uma das 15 maiores empresas do setor financeiro dos Estados Unidos, tem entre seus fornecedores de ouro cooperativas de garimpeiros autuadas por desmatamento ilegal, uso irregular de mercúrio e com áreas de garimpo localizadas às margens de Unidades de Conservação (UC) da Amazônia. Documentos obtidos pela Repórter Brasil, em parceria com o The Bureau of Investigative Journalism (TBIJ), mostram que a rede de fornecedores da empresa também inclui uma empresa investigada pela PF por possível envolvimento em esquemas de exploração ilegal de ouro em Itaituba, no Pará, desde 2021. A relação entre esses fornecedores brasileiros e a StoneX é apontada em notas fiscais, que indicam a venda de ouro por uma empresa intermediária – a  Coluna DTVM – para a StoneX Commodities DMCC, subsidiária do grupo em Dubai.

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