
Os senadores amapaenses Davi Alcolumbre (União Brasil), presidente do Senado, e Randolfe Rodrigues (PT), líder do governo na casa, integram a “tropa de choque” que pressiona o IBAMA pela liberação da licença para Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, localizado no litoral do estado. Contando com royalties que, se vierem, não chegarão antes de 2031, eles dizem que a exploração de petróleo vai levar “desenvolvimento” ao Amapá.
O que Alcolumbre, Randolfe e outros políticos do estado, como o governador Clécio Luís (Solidariedade) ignoram são as atividades criminosas que estão roubando as riquezas do estado e afetando a vida dos amapaenses. Há cerca de 15 dias, uma barragem de garimpo ilegal rompeu, levando rejeitos para os rios Cupixi e Araguari, nos municípios de Pedra Branca do Amapari e Porto Grande.
Na semana passada, agentes da Delegacia do Meio Ambiente do Amapá estiveram em Pedra Branca do Amapari para coletar novas amostras do rio Cupixi, relata o g1. Moradores de Porto Grande denunciaram a coloração diferente do curso d’água, que tem ligação com os rios Araguari e Amapari. Os três fazem parte da circulação da economia dos dois municípios.
No entanto, a necessidade de se alimentar tem feito os cerca de 4.000 moradores afetados pela contaminação não atenderem à recomendação do governo estadual de suspender a pesca, mesmo com o reconhecimento de situação de emergência pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. E a demora na divulgação dos resultados da análise da água colabora para a descrença de parte dos ribeirinhos em relação a riscos, informa a Folha.
“Não tenho condição de comprar comida todos os dias. A carne está cara, a galinha também”, diz o pescador Antônio Magave, 65 anos, da comunidade de Cupixi, em Porto Grande. Ele contou que sua família manteve o consumo de peixes. “A gente tem que consumir do rio, não tem peixinho morto nenhum, então eu vou pegar e vou comer. Eu só não posso vender”, ressaltou. “Não dá pra ficar comprando comida”, desabafou.
Extrativista de açaí e castanha em Cupixi, José Raimundo Rigor, de 52 anos, disse aguardar os resultados para voltar a consumir peixe. Ele temia a insegurança alimentar, como também a contaminação de sua família – cinco filhos, uma delas grávida de cinco meses, além de quatro netos.
“Eu espero que isso acabe logo e que tenha um resultado. A gente tem esse costume de pegar o peixe para comer, é uma tradição nossa da comunidade. Todo dia sai a turma, que se encontra no rio, para pescar”, relatou.
Voltando à exploração de petróleo na foz do Amazonas tão desejada pelos políticos do Amapá, não se sabe se há mesmo volumes comerciais, e se houver, quanto renderão de royalties. Mas se sabe as perdas com o garimpo ilegal.
Segundo a Polícia Federal, em quatro anos, a área do maior garimpo ilegal do estado aumentou cerca de 4,2 mil hectares. Nesse período, teriam sido extraídas ilegalmente duas toneladas de ouro, o que equivale a R$ 642 milhões. Riqueza roubada nas barbas dos políticos amapaenses.
Em tempo: A StoneX, uma das 15 maiores empresas do setor financeiro dos Estados Unidos, tem entre seus fornecedores de ouro cooperativas de garimpeiros autuadas por desmatamento ilegal, uso irregular de mercúrio e com áreas de garimpo localizadas às margens de Unidades de Conservação (UC) da Amazônia. Documentos obtidos pela Repórter Brasil, em parceria com o The Bureau of Investigative Journalism (TBIJ), mostram que a rede de fornecedores da empresa também inclui uma empresa investigada pela PF por possível envolvimento em esquemas de exploração ilegal de ouro em Itaituba, no Pará, desde 2021. A relação entre esses fornecedores brasileiros e a StoneX é apontada em notas fiscais, que indicam a venda de ouro por uma empresa intermediária – a Coluna DTVM – para a StoneX Commodities DMCC, subsidiária do grupo em Dubai.