
Dados divulgados nesta 4a feira (21/5) pela plataforma Global Forest Watch (GFW), da World Resources Institute (WRI) revelam que, pela primeira vez em mais de duas décadas, as labaredas dos incêndios superaram a agricultura como a principal causa de destruição de florestas tropicais no mundo, respondendo por quase metade da perda registrada em 2024.
Enquanto antes representavam cerca de 20% do total, as queimadas atingiram proporções sem precedentes em 2024, afetando tanto regiões tropicais quanto boreais, com destaque para Canadá e Rússia. Globalmente, os incêndios queimaram 5 vezes mais florestas tropicais primárias no período do que no ano anterior.
O Brasil, que detém a maior parcela desses ecossistemas, perdeu 2,8 milhões de hectares, o maior índice dentre todas as nações monitoradas. De acordo com o levantamento, a queima foi responsável por 66% da perda florestal no país.
Além das chamas, o desmatamento por atividades agropecuárias também cresceu nas florestas tropicais brasileiras, especialmente devido à expansão da monocultura da soja e pecuária – o aumento foi de 14%. Apesar disso, os números ficaram abaixo dos registrados no início dos anos 2000 e no governo Bolsonaro.
“Isso foi sem precedentes, o que significa que temos que adaptar toda a nossa política a uma nova realidade”, declarou André Lima, responsável pelas políticas de controle do desmatamento no Ministério do Meio Ambiente, à Reuters. Ele acrescentou que o fogo, que nunca esteve entre as principais causas de perda florestal, agora é uma das prioridades máximas do governo.
“O Brasil progrediu no governo Lula, mas a ameaça às florestas ainda persiste. Sem investimentos sustentados na prevenção de incêndios florestais, fiscalização mais rigorosa nos estados e foco no uso sustentável da terra, [essas] conquistas correm o risco de serem desfeitas”, disse Mariana Oliveira, diretora do programa de florestas e uso da terra do WRI Brasil, à Folha. “Enquanto o Brasil se prepara para sediar a COP30, tem uma oportunidade poderosa de colocar a proteção florestal em primeiro plano no cenário global”.
Em todo o mundo, a perda de florestas primárias quase dobrou em 2024 na comparação com o ano anterior, totalizando 6,7 milhões de hectares. As emissões de dióxido de carbono (CO2) decorrentes dos incêndios atingiram 4,1 gigatoneladas de CO2 (GtCO2) – quase o dobro das emissões nacionais brasileiras em 2023.
Grande parte dessas emissões resulta dos incêndios nas florestas tropicais, como a Amazônia, bioma que teve um aumento de 13% na área incendiada, aponta o relatório. O Guardian lembrou que os dados diferem das estatísticas oficiais do Brasil, que usam uma definição distinta de desmatamento e não incluem o fogo.
Axios, Bloomberg, Climate Change News, Deutsche Welle e Euronews repercutiram o relatório do WRI no exterior. Já no Brasil, a notícia foi destacada por Agência Brasil, Brasil de Fato, Exame, O Globo, SBT, Um Só Planeta e Valor, entre outros.