Clima ditatorial: as preocupações sobre a realização da COP27 no Egito

COP27 Egito ditatorial
Stefano Guidi/Getty Images

Todo ano, o país-anfitrião da Conferência da ONU sobre o Clima (COP) se esforça para se apresentar ao mundo como o grande “campeão verde”, um exemplo global para o esforço contra a mudança do clima e a transição energética para fontes renováveis. Em alguns casos, o malabarismo até faz sentido; em outros, não passa de malabarismo mesmo. No Egito, no entanto, podemos estar testemunhando outro tipo de greenwashing: aquele que pinta de verde um Estado autoritário e repressivo que aprisiona ambientalistas e ativistas climáticos.

“[A COP27] vai muito além do greenwashing de um Estado poluente – é um greenwashing de um Estado policial”, escreveu Naomi Klein no Guardian. “As comunidades e as organizações egípcias mais afetadas pela poluição ambiental e pelo aumento das temperaturas não serão encontradas em nenhum lugar em Sharm el-Sheikh. Não haverá ‘excursões tóxicas’ [onde a imprensa internacional é levada para áreas que contestam o discurso verde dos anfitriões da COP], ou contra-copuladas animadas, onde os moradores locais levam à escola os delegados internacionais para mostrar a verdade por trás das relações públicas de seu governo”.

Em seu texto, Klein lembra o ativista Alta Abd el-Fattah, um dos jovens que despontaram nos protestos democráticos que derrubaram a ditadura de Hosni Mubarak no Egito em 2011, em plena Primavera Árabe. Preso há quase uma década, el-Fattah não se esqueceu das grandes questões enfrentadas pela população egípcia e pela humanidade como um todo. Mesmo na cadeia, ele segue escrevendo sobre episódios recentes, como as enchentes históricas no Paquistão, o avanço do extremismo nacionalista na Índia e até mesmo a corrida presidencial no Brasil. No entanto, lamenta Klein, a passagem da COP pelo Egito pode mostrar que as grandes lideranças globais podem estar se esquecendo de el-Fattah e de sua luta ao participar, sem críticas nem vergonha, da Conferência de Sharm el-Sheikh.

Em tempo 1: Mesmo com a COP27 na lista de prioridades políticas do governo egípcio, ela segue sendo algo totalmente alheio para a maior parte da população local, inclusive aqueles que teriam maior interesse em suas deliberações. O jornal The National, do Egito, mostrou a rotina dos trabalhadores que atuam em um dos maiores centros não oficiais de reciclagem do mundo, a “Cidade do Lixo”, nos arredores do Cairo. Para quem trabalha lá, a COP é um bicho totalmente desconhecido.

Em tempo 2: O Fórum dos Países Vulneráveis, que reúne 20 das nações mais ameaçadas pela mudança do clima, reforçou nesta semana a cobrança para que os países ricos avancem com a questão do financiamento climático na COP27. Para eles, chegou a hora de os negociadores discutirem a compensação por perdas e danos decorrentes de eventos extremos. O Guardian deu mais informações.

 

ClimaInfo, 19 de outubro de 2022.

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