“Não tem futuro para uma empresa de petróleo sem exploração”, diz presidente da Petrobras

Exaltando a exploração da Foz do Amazonas, Magda Chambriard deixa claro que transformar a Petrobras numa empresa de energia não está nos planos.
28 de outubro de 2025
Magda Chambriand
Tânia Rêgo/Agência Brasil

Magda Chambriard era diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) quando o órgão regulador leiloou o bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas, em 2013. Hoje, presidindo a Petrobras, empresa responsável pela área, ela celebra a licença recebida pela petrolífera para perfurar um poço no bloco como um “marco” para o Amapá e o Brasil. Não importa se a algumas centenas de quilômetros do Bloco 59, na COP30, quase 200 países estarão discutindo como conter as mudanças climáticas, que têm como principal responsável os combustíveis fósseis que a executiva quer continuar produzindo, e cada vez mais.

Participando da Offshore Technology Conference-OTC Brasil, no Rio de Janeiro, na 3ª feira (28/10), Magda afirmou que “não tem futuro para uma empresa de petróleo sem exploração”, informam Valor e Brasil 247. Com a Foz, a presidente da Petrobras disse que “estamos abrindo novas fronteiras para aumentar a produção sustentável do país”. O “sustentável” nada tem a ver com clima e meio ambiente, mas sim com mais e mais petróleo e gás fóssil.

Magda deixa claro que a sua visão de futuro é cheia de combustível fóssil. Não importa se as projeções, tanto da Agência Internacional de Energia (IEA) como de vários países, são de queda na demanda por petróleo a partir de 2030. Ou se é alto o risco da Petrobras ficar com ativos encalhados na Foz, como já foi mostrado que poderá acontecer se o mundo cumprir as metas do Acordo de Paris.

Acima de tudo, a presidente da Petrobras passa por cima da necessária virada de chave de uma petrolífera para uma empresa de energia, não apenas pela urgência climática, mas até mesmo pela perenidade financeiro-econômica da própria empresa. Afinal, embora tenha aumentado as previsões financeiras para fontes renováveis e combustíveis de baixo carbono em seu último plano de negócios (2024-2029), o valor é muito menor do que o previsto para exploração de petróleo e gás. Sem falar que até agora estas previsões continuam apenas no papel.

O Observatório do Clima lançou em setembro uma proposta – A Petrobras de que precisamos – na qual se mostra que é possível a petrolífera reduzir as cifras para combustíveis fósseis e aumentá-las para projetos renováveis e de baixo carbono, com ganhos financeiros. A empresa foi convidada para o lançamento do documento. Mas a autointitulada “líder da transição energética justa” não respondeu, nem mandou representantes.

Como disse o secretário-geral da ONU, António Guterres [leia mais aqui], está claro que a era dos combustíveis fósseis está chegando ao fim. Magda e os defensores da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota”, porém, preferem ignorar o óbvio. Assim, em vez de “segurança energética” — o argumento duvidoso usado para explorar mais e mais —, a Petrobras corre sério risco de perder sua liderança no desenvolvimento energético do país, bem como sua posição no mercado. Algo que os acionistas não perdoarão, já que o clima, ao que parece, não importa.Valor e Times Brasil também reproduziram falas de Magda na OTC Brasil.

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