ClimaInfo, 1 de março de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

Recesso no carnaval

A equipe do ClimaInfo deseja um bom carnaval a todas e todos. Voltamos na 5a feira, mesmo que as águas não rolem e que pierrô não se apaixone pela colombina.

 

Governo atropela Waimiri-Atroaris para construir linhão de Roraima

O governo Bolsonaro declarará o projeto da Linha de Transmissão Manaus – Boa Vista como estratégico para a defesa nacional. Com isto, espera acelerar a emissão da licença de implantação e começar a construção rapidamente, o que provavelmente atropelará as negociações com os Waimiri-Atroari. A intenção, no mínimo um tanto truculenta, só será possível porque acontece no meio da Amazônia e os prejudicados são índios, dois dos alvos prediletos deste governo.

O Estadão e o Valor deram a notícia.

 

A troca da guarda no Ibama

Ontem, Salles exonerou 20 dos 26 superintendentes do Ibama. O Estadão informa que ele convidará militares da reserva para ocupar os postos. Ontem, também, foi noticiada uma operação conjunta da Polícia Federal e de agentes do Ibama interditando um garimpo ilegal nas terras indígenas Roosevelt e Sete de Setembro, no interior de Rondônia, quando foi destruído maquinário pesado.

Nos últimos anos, ações semelhantes motivaram protestos radicais que chegaram a incendiar veículos e sedes do Ibama e do ICMBio. Será interessante ver como reagirão os novos superintendentes militares caso grileiros e garimpeiros ilegais voltem a tocar fogo em escritórios e veículos sob sua responsabilidade.

 

Ruralistas conseguem mais crédito em troca do apoio à PEC da Previdência

Para conseguir aprovar o pacote da Previdência, o ministro Paulo Guedes precisa contar com todo congressista que puder. Talvez por isso, ele tenha aberto o cofre do Tesouro Nacional e prometido aumentar a dotação para o crédito rural. Na 3a feira, a ministra Tereza Cristina disse à Comissão de Agricultura do Senado ter conseguido um aumento de pelo menos 5% em relação ao Plano Safra do ano passado, um total de, no mínimo, R$ 200 bilhões. Ao longo desta semana, foram vários os contatos do governo com a bancada ruralista para garantir os votos para a aprovação da nova Previdência.

 

Mais energia de Itaipu em troca de duas pontes entre Brasil e Paraguai

O Tratado de Itaipu completará 50 anos em 2023. Pelo tratado, a energia gerada pela usina é dividida em duas partes iguais para o Brasil e o Paraguai. Um anexo do Tratado determina que toda a energia excedente do Paraguai seja vendida ao Brasil e, assim, vem funcionando a coisa com os devidos ajustes no preço da energia. Os últimos governos têm dedicado uma atenção especial a este anexo, pensando no risco de deixar de receber o excedente. O novo diretor-geral da Itaipu Binacional, o general Joaquim Silva e Luna, quer resolver a questão rapidamente. Para isso, já topou construir duas pontes entre os dois países, a um custo estimado de R$ 1 bilhão. Mas ele quer ainda analisar a possibilidade de acrescentar duas novas turbinas às 18 existentes e acertar o preço da energia paraguaia excedente.

 

Angra 3: começa a busca por investidores

A conversa sobre acabar de construir a usina nuclear de Angra 3 vem se arrastando há anos. No final do ano passado, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou uma tarifa especial para a usina, num valor quase duas vezes maior que o da energia mais cara comercializada no sistema elétrico atual. O mercado gostou, mas o Tesouro Nacional anda meio sem recursos e, portanto, para terminar a usina, o governo terá que achar investidores dispostos a bancar algo entre R$ 16 e R$ 18 bilhões. Nesta semana, o MME anunciou que fará uma série de apresentações em busca de sócios. Até o ano passado, havia cinco empresas ou consórcios interessados: a russa Rosatom, o consórcio franco-nipônico EDF/Mitsubishi Heavy Industries, a sul-coreana Kepco e as chinesas CNNC e SNPTC (controlada pela SPIC). Os norte-americanos parecem não estar muito interessados, pelo menos até o momento. O Brasil pode vir a ter um papel estratégico no mundo dos reatores comerciais, se e quando houver demanda de urânio suficiente para rodar a unidade de enriquecimento de Resende a pleno vapor.

 

Deputado quer consumidores pagando pela eletricidade roubada

Criativamente, o deputado Júnior Ferrari está propondo ao consumidor que pague pela eletricidade roubada das distribuidoras, os famosos ‘gatos’. Tecnicamente, ele quer pendurar mais uma despesa na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). No final do ano passado, um dos últimos decretos de Temer teve como propósito reduzir paulatinamente os subsídios embutidos na conta de luz, de modo a chegar, após cinco anos, a zerar os subsídios. A exceção à esta regra proposta por Ferrari, se somaria à da tarifa dos produtores rurais.

Aberrações à parte, a maior parte dos ‘gatos’ é feita por gente pobre. Se é para aumentar a conta de todos, não seria mais esperto ajudar a legalizar estas ligações?

 

Bancos e investidores não querem mais carvão

China não quer carvão australiano

Nas últimas semanas, várias notícias mostraram a dificuldade cada vez maior enfrentada pelo carvão para sobreviver como combustível. Boa parte da leva veio do setor financeiro. Segundo um relatório do IEEFA (Instituto de Economia e Análise Financeira da Energia), a cada duas semanas, mais um banco ou uma seguradora anuncia restrições ao carvão em suas carteiras. Só neste começo de ano, o clube ganhou mais cinco sócios: o Nedbank da África do Sul, o Barkleys do Reino Unido, o Export Development canadense e o Varma da Finlândia. O quinto e mais recente é o Vienna Insurance Group que avisou que não oferecerá seguros para novas plantas e minas de carvão. A Deutsche Welle comentou o relatório. Fundos de investimento já estão prevendo que a demanda de carvão na Europa deve sofrer um colapso nos próximos 3 anos. Per Lekander, do Lansdowne Partners, administradora de carteiras de mais de US$ 1 bilhão, afirma: “Minha previsão para o carvão ficar com menos de 5% da oferta de eletricidade é para daqui a 3 ou 4 anos. Uma vez que o preço da tonelada de carbono (no mercado europeu de emissões) chegar em € 50, o mercado do carvão desaparecerá. Os investidores estão começando a se dar conta de que a mudança climática não é um assunto da política, é real. E, se é real, é preciso reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis. E isso vai acontecer. Poderia acontecer até mais rápido.”

Outra notícia vinda da Alemanha dá conta que uma planta a carvão, que está pronta para entrar em operação e que custou € 1,5 bilhão, talvez nem comece a funcionar.

Na China, as autoridades de um dos maiores portos, o complexo de Dalian, anunciaram que não mais aceitarão a entrada de carvão australiano e que definiram um teto para o volume de carvão importado que passa pela sua alfândega. A notícia gerou impactos no mundo todo e fez o dólar australiano despencar. O The Guardian e a ABC comentaram a decisão chinesa e a queda da moeda.

Na própria Austrália, uma das maiores minas, a Adani, pode atrasar o início da extração em mais de 2 anos, por conta de novas exigências ambientais do processo de licenciamento.

 

Emissões chinesas aumentaram no ano passado

Apesar dos renováveis ocuparem cada vez mais espaço na matriz de geração elétrica chinesa, a aceleração da economia em 2018 – e o consequente aumento no consumo de carvão – fez as emissões chinesas aumentar em 3%. Para dar uma ideia do que isto significa, dado que a China emite mais de 12 bilhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono, este crescimento de 3% corresponde ao total das emissões da queima de combustíveis fósseis no Brasil.

 

Concreto, o material mais destrutivo feito pelo homem

O jornal inglês The Guardian publicou um especial sobre o concreto, “o material mais destrutivo da Terra”. A série mostra que o concreto é um problemão, posto que sua produção usa muito cimento e que a produção do cimento usa muita energia e água. A indústria do cimento é a segunda na lista das indústrias que mais emitem carbono. Como só agora começa-se a pesquisar concretos recicláveis, a maior parte da produção termina sua vida útil em aterros, o que também é um estorvo em termos de competição por uso da terra. Uma das matérias da série fala da volta da madeira como elemento estrutural para reduzir a absurda quantidade de cimento produzida mundo afora.Para ver

 

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Greenpeace: Quanto vale a palavra da Vale?

Sobre o som e as imagens originais de um filme da Vale provavelmente usado em treinamentos de segurança, e que tem como eixo o valor que a Vale dá para vida humana, uma edição feita pelo Greenpeace acrescentou imagens do crime praticado em Brumadinho. Diz o GP: “Em apenas três anos, a Vale foi a responsável pelas duas maiores tragédias socioambientais do país, em Mariana e em Brumadinho. Milhares de pessoas perderam seus familiares, suas casas e seu modo de vida. Já está claro que as ações que vêm sendo tomadas pela Vale desde o desastre do Rio Doce não garantem a segurança do meio ambiente e da população nas regiões onde estão instaladas estas barragens”. O site da organização tem mais detalhes e o imperdível vídeo.

 

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Festival de Documentários Climáticos

No ano passado, a cidade de Paradise na Califórnia sumiu do mapa, devorada pelo maior incêndio florestal da história daquele estado. Recentemente, a menos de 100 km, foi realizada a edição de 2019 do “Wild & Scenic Film Festival”. Dentre os mais de 150 documentários, muitos trataram da mudança do clima. Segundo matéPara verria da Yale, “emergiram vários temas-chave, mas nenhum tão palpável como a percepção de que a mudança do clima é mais que iminente, seus impactos já estão se tornando dolorosamente pessoais”. Vários trailers dos filmes que podem ser alugados on-line podem ser vistos neste site.

 

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WRI Explica: restauração de paisagens e florestas

Continuando seu trabalho de descomplicar, o WRI Explica explica no que consiste a restauração de florestas e de paisagens. Para interessados de todas as idades.

 

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Storming the Wall    – Climate Change, Migration, and Homeland Security

Todd Miller correu o mundo colhendo histórias e depoimentos de gente que sofreu – e está sofrendo – os impactos da mudança do clima. Secas que duram mais e cobrem uma área maior, inundações mPara verais fortes e as supertempestades que estão aumentando o número de refugiados climáticos. Miller junta essa leva de gente à história de empresas que estão fazendo fortuna para não deixar essa leva entrar. Os novos muros nas fronteiras estão pipocando por todo o hemisfério norte. O livro também toca no surgimento de movimentos em prol da justiça ambiental e da sustentabilidade. A Citylights tem uma resenha e o livro à venda. A Amazon brasileira também está oferecendo o livro.

 

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Above and beyond: Belt and Road Initiative investment and risk outlook

Monumental e polêmica à chinesa, a iniciativa Belt and Road (Cinturão e Rota) oferece financiamento para obras de infraestrutura em países asiáticos vizinhos e em países africanos. Junto com o financiamento, empresas chinesas oferecem engenharia, materiais, trabalhadores chineses, etc. O relatório que acaba de sair levanta as principais tendências de investimento e é baseado em entrevistas com gente profundamente envolvida com a Iniciativa. O relatório está disponível de graça neste site.

 

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The TEEB AgriFood ‘Scientific and Economic Foundations’

O The Economics of Ecosystem and Biodiversity fez escola e foi incorporado em iniciativas no mundo todo. Agora, eles acabam de lançar o volume que trata da inter-relação entre o setor agroalimentício, os serviços ecossistêmicos e da biodiversidade e externalidades como o impacto do agronegócio sobre a saúde humana. Como nos volumes anteriores, o TEEB prega uma visão sistêmica que trace caminhos para mudanças verdadeiramente transformadoras. O trabalho, em inglês, pode ser baixado de graça do site do TEEB, assim como o sumário em espanhol. Os volumes anteriores também.

 

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Chernobyl: History of a Tragedy

Serhii Plokhy fez uma ampla investigação da explosão que destruiu a usina nuclear de Chernobyl, na então União Soviética. Naquela época, o governo soviético tentou ao máximo esconder, primeiro a explosão em si, e, em seguida, todos os efeitos das nuvens radioativas que chegaram até a Irlanda e que transformaram a região do reator em um deserto econômico pelos próximos 20 mil anos. Os custos da explosão estão na casa das centenas de bilhões de dólares. Plokhy pergunta: “Será que temos certeza de que todos esses reatores são seguros, que as medidas de segurança serão seguidas ao pé da letra e que os regimes autocráticos desses países (onde os reatores estão localizados) não sacrificariam a segurança de suas populações e do mundo todo para gerar um pouco mais de energia e de dinheiro para aumentar seu poderio militar, assegurar um rápido desenvolvimento econômico e tentar aplacar o descontentamento popular? Foi exatamente isso que aconteceu na URSS em 1986”. O livro foi publicado no ano passado e foi resenhado pelo Climate News Network e pelo The Guardian.

 

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