ClimaInfo, 20 de março de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

Quem salvará a Floresta Amazônica?

A pergunta foi feita por Carol Giacomo em um editorial do New York Times. Giacomo conversou com Sônia Guajajara, líder indígena com voz no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Sônia contou: “Estamos vendo enchentes durarem mais, estamos vendo secas mais longas, estamos vendo a redução de peixes por causa das secas. Assim, isso afeta nossa segurança alimentar. Também afeta nossa cultura.” Se a floresta e seus povos sempre estiveram ameaçados, o perigo aumentou com a entrada do governo Bolsonaro. Carol reproduz outra fala de Sônia: “Em apenas 50 dias de governo Bolsonaro houve uma reversão de 30 anos de progresso. Tudo que estivemos tentando construir desde então, estamos tentando manter em pé”. Carol Giacomo diz que “desde a sua posse, o senhor Bolsonaro enfraqueceu ou reduziu o orçamento de agências governamentais que zelam pela proteção da Amazônia e seus povos indígenas e passou essas responsabilidades para o “ministério pró-fazendas, pró-mineração e pró-madeireiro da agricultura”. Ela arremata dizendo que “se há esperança para a floresta e para países onde autoritários ameaçam as agendas democráticas e progressistas, ela reside na determinação e no poder de ativistas da sociedade civil como Sônia Guajajara”.

 

Trump e Bolsonaro, a dupla ameaça ao meio ambiente e aos povos indígenas

Joênia Wapichana e Deb Haaland escreveram, juntas, um artigo para o Washington Post falando da ameaça que Trump e Bolsonaro representam para seus povos e para o meio ambiente. Joênia Wapichana é deputada federal e líder indígena da Amazônia e Deb Haaland é a equivalente norte-americana de deputada federal do povo indígena Laguna Pueblo, do Novo México, EUA. “Estamos preocupadas com essas políticas e com a escalada de ameaças contra nossos povos. Devemos nos opor à retórica tóxica e aos ataques brutais contra os direitos dos povos indígenas (…) Dentre os muitos paralelos que podem ser estabelecidos entre os mandatos de Bolsonaro e Trump, pode-se afirmar que ambos os líderes estão adotando medidas extremas para retirar os direitos duramente conquistados pelos povos indígenas em benefício dos setores de atividades extrativas e da agricultura comercial”. Elas dizem que os povos indígenas são reconhecidos mundialmente como os melhores zeladores e os gestores mais eficientes do meio ambiente. O artigo termina avisando que “os retrocessos levados a cabo pelos governos de Trump e Bolsonaro são esmagadores; e ressaltam a necessidade da solidariedade entre os povos indígenas e nossos aliados nas Américas do Norte e do Sul. Vamos continuar a examinar detidamente as tentativas dos mandatos de Bolsonaro e Trump de enfraquecer a santidade das terras sagradas e desprezar os direitos das tribos afetadas. Vamos estimular nossos pares no Congresso para analisar estratégias para que possamos combater as ameaças aos povos indígenas e às biosferas vitais para a manutenção climática, como a floresta amazônica. Ademais, vamos apoiar os líderes indígenas e os ativistas ambientais que enfrentam criminalização, ameaças e violência em razão de seu ativismo. Temos duas opções: ou defendemos os direitos humanos de nossos povos ou corremos o risco de perder tudo”.

 

Condenados por desmatamento ilegal terão que recuperar área degradada

A Madesa Madeireira Santarém e Luiz Fernando Ungenheuer foram condenados por extração ilegal de madeira e falsificação dos documentos que legalizariam a extração. O total de madeira ilegal encheu o equivalente a cerca de 500 caminhões carregados de toras com algumas das espécies mais valorizadas, como maçaranduba e ipê. Eles alegaram erros no preenchimento da documentação, mas o juiz não acreditou. Agora terão até o final do mês para apresentar um Plano de Recuperação para uma área degradada no Projeto Agroextrativista Corta Corda, na região de Santarém, no Pará. A notícia saiu n’O Globo.

 

Desmatamento deixa investidores insatisfeitos e em risco

O Mongabay publicou duas matérias que conversam muito entre si. A primeira comenta um artigo publicado pela PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) no começo de janeiro. No trabalho, os pesquisadores usaram o histórico de imagens de satélite desde 2000 para acompanhar a mudança do uso da terra. Observaram que a área agrícola quase que dobrou entre 2000 e 2014, passando de 26 milhões de hectares para mais de 46 milhões. 80% da nova área agrícola era pasto e 20% vegetação nativa. O artigo da Mongabay descreve a dinâmica do desmatamento com todas as letras: “o desmatamento é mais fortemente provocado pela especulação de terras, onde os especuladores desmatam uma área, possivelmente vendendo a madeira, e convertendo-a (primeiro) em pasto para, depois, vender a área para um produtor de soja a um preço muito mais alto.”

O segundo artigo conta que fundos institucionais de investidores estão avisando as grandes traders da soja que não querem se ver comprometidos com o desmatamento do Cerrado e que estão enxergando riscos tanto para os resultados financeiros quando para suas reputações. O artigo cita, como exemplo, o risco de boicotes por parte de consumidores ou de processos legais por serem associados ao desmatamento ou a violações de direitos humanos. A Unilever e a Nestlé são citadas por haverem se comprometido com o desmatamento zero e com a rastreabilidade total de sua cadeia de suprimentos.

 

Para que mortes, deslizamentos e inundações não se repitam nos próximos anos

Fabio Feldmann escreveu na Folha sobre as mortes, deslizamentos e inundações deste verão. Apoiando-se na ciência do IPCC, Feldmann avisa que o clima mudou e o que antigamente eram eventos extraordinários “passaram a ser parte de nosso cotidiano”. Assim, “as tragédias recentes demonstram que estamos, criminosamente, deixando de nos preparar para os grandes impactos em curso do aquecimento global (..). temos que encarar a mudança do clima e a degradação ambiental como itens obrigatórios da agenda brasileira, com o poder público passando a levar a sério suas obrigações constitucionais e a sociedade, por sua vez, deixando de considerar as tragédias como meros e inevitáveis desastres naturais”.

 

São Paulo mais uma vez na contramão da ação climática

O governo Doria deu mais uma demonstração de que a mudança climática não faz parte do seu repertório. O secretário da fazenda, Henrique Meirelles, anunciou uma ajuda para as pobres montadoras de automóveis: para cada R$ 1 bilhão investido, será dado um abatimento de 2,7% no ICMS dos veículos produzidos a partir do investimento. A medida vem na sequência da decisão de fechamento da fábrica do ABC paulista da Ford e das ameaças da GM, que diz estar pensando em fazer o mesmo. O discurso oficial foi o da tradicional preservação de empregos, apesar de transparecer que vale mais 97,3% do ICMS na mão do que uma Ford voando. Meirelles e governantes em situações similares poderiam aproveitar e engatar exigências de eletrificação dos veículos de carga e do transporte público. Ou Meirelles e governantes deviam incorporar em suas planilhas, o tempo perdido em congestionamentos e os custos que sobram para os sistemas de saúde devido aos acidentes e à poluição que os milhões de automóveis provocam.

 

A recuperação florestal no Dia Mundial da Floresta e das Árvores

Amanhã, 21 de março, comemora-se o Dia Mundial da Floresta e das Árvores. Quase que como para comemorar, matérias interessantes foram publicadas sobre florestas nativas e sobre as secundárias que brotam em áreas desmatadas. Um artigo da Sciences Advances mostra que uma floresta que rebrota em áreas desmatadas a partir de remanescentes florestais chegam a recuperar 80% da biodiversidade original. Segundo Pedro Brancalion, um dos pesquisadores, “nós sabemos que o desmatamento leva a perdas de diversidade. Isto acontece quando uma área de floresta primária é derrubada para dar lugar à monocultura da soja ou a um pasto de capim braquiária, por exemplo. Sempre que isto ocorre, a gente transforma em cinzas um tesouro com milhares de espécies que a natureza levou milhões de anos para criar.” Sobre as áreas desmatadas, Brancalion diz que “depois de quatro ou cinco anos de queimadas sucessivas, com a fertilidade do solo exaurida, o terreno é abandonado. Mas ainda restam sementes intactas no solo, tocos de árvores que rebrotam, raízes que rebrotam. Estes propágulos de espécies nativas podem regenerar. Além disto, os morcegos e aves que habitam as áreas próximas ajudam na dispersão das sementes da floresta primária para a área em regeneração (…) a regeneração é muito mais bem-sucedida numa paisagem que foi desmatada há cinco anos, como é o que mais ocorre na Amazônia, do que, por exemplo, na recuperação de um trecho de Mata Atlântica que foi derrubado em Pernambuco há 500 anos”. O trabalho mostra que, embora muitas das espécies da floresta original estejam presentes na floresta secundária, a distribuição dessas espécies é bem diferente. O pessoal d’O Eco comentou o artigo concluindo que “portanto, pode demorar séculos até que as florestas secundárias recuperem as mesmas espécies da floresta original, se isso realmente chegar a acontecer algum dia.”

O pesquisador da Embrapa, Erick Schaitza, falou à rádio Brasil Rural, da EBC, da importância da floresta nativa. Para ele, se de um lado uma floresta plantada dá mais lucro e ocupa uma área degradada, ela melhora a conservação de água e do solo e ajuda a aumentar um pouco a biodiversidade. Mas, comparada com florestas naturais, tem menos biodiversidade, pois não cumpre todos os serviços ambientais.

 

Secretário-geral da ONU fala sobre a greve climática da 6ª passada

António Guterres, secretário-geral da ONU, escreveu sobre a greve estudantil da semana passada. “As greves climáticas devem nos inspirar a agir na próxima reunião de cúpula da ONU. Sem ações ambiciosas, o Acordo de Paris perde o significado.” Guterres destaca que os “estudantes entenderam algo que parece escapar a muitos dos mais velhos: estamos em uma corrida pelas nossas vidas, e estamos perdendo. A janela de oportunidade está fechando – não temos mais o luxo de ter tempo e o atraso climático é quase tão perigoso quando a negação climática. A minha geração falhou em responder de modo apropriado ao desafio dramático da mudança do clima. Isso é sentido profundamente pelos jovens. Não admira que estejam zangados.”

 

O ciclone Idai pode ser o pior desastre climático no Hemisfério Sul

Ainda não se sabe as proporções exatas da tragédia causada pelo ciclone Idai, que atingiu Moçambique, Zimbábue e o Malawi, mas estima-se que este pode ser o pior desastre climático que já atingiu o Hemisfério Sul. O que sobrou do porto moçambicano de Beira está ilhado do resto do continente. Os relatos do pessoal envolvido no resgate são desoladores. A contagem oficial das mortes já passa de 300, mas estima-se que, ao longo das próximas semanas, o número passe de 1.000. Rios transbordaram e os ribeirinhos que conseguiram subir em telhados e árvores estão isolados. Poucos estão conseguindo ser resgatados e as autoridades estão tendo muita dificuldade para levar comida e água potável aos sobreviventes. O ciclone não passou pela África do Sul, mas no país todo está sentindo seus efeitos.

Desde o ano passado, a Eskom, a única empresa de eletricidade do país, passa por uma crise financeira descomunal, vítima de esquemas de corrupção. A crise se agravou e, desde o começo do ano, a empresa está sob ameaça de interrupção de suas atividades por não estar conseguindo pagar o carvão que queima para gerar eletricidade. Assim, o país vê térmicas sem carvão e a situação agravada pelo baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Para completar, sendo considerado uma tempestade perfeita, o ciclone Idai interrompeu o funcionamento da hidrelétrica de Cahora Bassa que fornece uma parte importante da energia consumida no país. O resultado é que, desde o final de semana, 40% da capacidade de geração está fora de ação e o país virou um vagalume – ora acende, ora passa por um blecaute, sem previsão de volta à normalidade, mesmo com o feriado na próxima quinta-feira e a tradicional “ponte”. O Financial Times, a Bloomberg, o Valor e o sul-africano Fin24 falam dos blecautes sul-africanos.

 

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Outro mundo é possível urgente: alternativas sistêmicas para uma sociedade em colapso

Retomadas governamentais da ultradireita, ascensão de grupos conservadores, xenófobos, misóginos e racistas, acentuação das desigualdades, criminalização de movimentos sociais, fragilização e destruição de subjetividades e crescimento exponencial da predação ambiental – de fato, vivemos uma sociedade em colapso. Esta constatação não serve para fins fatalistas, mas para apontar que precisamos urgentemente de alternativas sistêmicas. A Ação Educativa e a Editora Elefante convidam para o debate e o lançamento do livro que acontecerão hoje, 4a feira, 19 de março, das 19h às 22h na Ação Educativa – Rua General Jardim, 660, São Paulo. O debate será transmitido pela internet neste link.

 

Para ir

Caminhos para a Eficiência Energética no Mercado Brasileiro de Condicionadores de Ar

O Instituto Clima e Sociedade e o PROCEL/ELETROBRAS convidam para uma discussão sobre os programas brasileiros relativos aos equipamentos de ar condicionado – o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) e o Selo Procel – como instrumentos para o aumento da eficiência energética. O evento foi estruturado de modo a provocar um debate propositivo sobre as oportunidades e as barreiras existentes para o avanço em direção à melhor performance desses equipamentos. A intenção dos organizadores é iniciar uma série de discussões sobre os impactos destes equipamentos sobre o sistema elétrico brasileiro (e, por consequência, sobre as emissões de gases de efeito estufa) e, para além disso, provocar debates sobre os caminhos e as soluções possíveis.

Dia 25 de março, das 8h30 às 18h, no auditório da Eletrobrás (Rua Conselheiro Saraiva, 41, Rio de Janeiro).

A programação pode ser vista aqui. As inscrições podem ser feitas aqui ou por meio deste e-mail.

 

Para ir

Energia & Comunidades – Feira e Simpósio de Soluções Energéticas para Comunidades da Amazônia

O encontro inédito quer promover a inclusão energética de comunidades isoladas na Amazônia, indígenas, ribeirinhos e povos tradicionais não atendidos pelo Sistema Interligado Nacional e nem pelos programas de universalização do acesso à energia elétrica, como o Luz para Todos.

Centro de Convenções do Amazonas – Rua Constantino Nery, 5001, Flores – Manaus. O Simpósio acontece de 25 a 27 de março, e a Feira vai de 25 a 28 de março de 2019. Saiba mais aqui.

 

Observação:

Na 6ª passada, dissemos que o ministro Ricardo Salles tinha feito um longo discurso na Assembleia da ONU Meio Ambiente e nos referimos a vários trechos do discurso. Escrevemos com base no press release do MMA. Mas a jornalista Dani Chiaretti, que esteva presente na reunião, nos avisou que, na verdade, Salles não leu o discurso divulgado pelo MMA. Leu uma versão reduzida onde não havia o seguinte trecho: “Eventos extremos criados pelo homem ou pela natureza precisam ser abordados pela comunidade internacional. Esses eventos tendem a atingir mais duramente as populações mais vulneráveis. O Programa de Meio Ambiente da ONU e seus Estados membros precisam fazer um esforço maior para enfrentar esses desafios frequentes.”

Agradecemos à Daniela pela informação. Da próxima vez não confiaremos na informação oficial do MMA; erro nosso confiar.

 

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