Em meio a alta do desmatamento, governo Bolsonaro demite responsável no INPE pelo monitoramento do desmatamento

INPE demissão

Um ano depois de exonerar o cientista Ricardo Galvão da chefia do INPE, o ministro Marcos Pontes (ciência e tecnologia) demitiu ontem (13/7) a pesquisadora Lubia Vinhas do cargo de coordenadora-geral de Observação da Terra do mesmo órgão, departamento responsável pelos sistemas DETER e PRODES de monitoramento do desmatamento na Amazônia. As circunstâncias dessas demissões são similares: elas aconteceram logo após o INPE divulgar dados alarmantes sobre a destruição florestal, o que desagradou ao governo federal, que tenta contornar as críticas de investidores e empresários brasileiros e estrangeiros contra sua política ambiental.

Ouvida por Giovana Girardi no Estadão, Lubia afirmou que soube da exoneração pelo Diário Oficial da União e que desconhece o motivo da decisão. A reportagem apurou que a medida pode estar relacionada a um processo de reestruturação do INPE que acontece desde a troca no comando do órgão, quando Galvão deu lugar a Darcton Policarpo Damião. Folha, O Globo e G1 também destacaram a demissão de Lubia.

A notícia reforça a ambiguidade que vem caracterizando a resposta do governo Bolsonaro às críticas sobre o desmatamento na Amazônia. O Valor destaca, por exemplo, um pedido recente feito pelo Planalto ao STF para anular um trecho do Código Florestal que impede invasões em Áreas de Preservação Permanente (APA), o que pode resultar em mais desmatamento. Para piorar, como aponta o Correio Braziliense, as medidas tomadas até agora para a contenção do desmatamento não surtiram efeito até agora.

A situação “é o pior dos mundos”, disse Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, à jornalista Daniela Chiaretti, em entrevista no Valor. “Se o desmatamento em julho, que é um mês muito forte, for igual ao de 2019, o aumento acumulado em 2020 será de 40%. Se em julho o desmatamento na Amazônia Legal zerar, já será 10% maior do que em 2019”.

A sensação de impunidade, impulsionada pela postura de Bolsonaro, reforça a tendência de aumento no desmatamento nos próximos meses. “Há um incentivo, ou pelo menos no discurso do governo, quando o presidente constrange os órgãos ambientais, quando o ministro do meio ambiente demite o chefe de fiscalização do Ibama e outros agentes que estavam combatendo a invasão de Terras Indígenas e o desmatamento provocado pelo garimpo ilegal, quando se reúnem com madeireiros ilegais, quando recebem pressão da bancada ruralista e mandam para o Congresso projetos de lei para tornar o que é ilegal em legal”, ressalta Carlos Rittl, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados de Sustentabilidade de Potsdam (Alemanha), à RFI. “Quem comete crime ambiental se sente respaldado por Brasília”.

Em tempo 1: O ClimaInfo se uniu ao Greenpeace Brasil e ao Observatório do Clima (OC) para lançar a atualização da linha do tempo do site “Governo da Destruição”, que sintetiza as principais ações e medidas do governo de Jair Bolsonaro para destruir a governança e a proteção ambiental no Brasil desde o começo de sua gestão, em janeiro de 2019, até agora. Neste momento que vivemos, ter acesso à verdade é essencial. E é isso que nossa linha do tempo mostra – a verdade que o governo tenta maquiar.

Em tempo 2: Após ser acusado de causar incêndios em Alter do Chão (Pará), o Projeto Saúde e Alegria voltou a firmar uma parceria com o Corpo de Bombeiros local para ajudar no combate às queimadas. No ano passado, uma operação da Polícia Civil do Pará prendeu um funcionário e três brigadistas voluntários sob a acusação de atear fogo na mata. Até agora, no entanto, não houve indiciamento formal. O Painel da Folha destacou a nova.

 

ClimaInfo, 14 de julho de 2020.

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