Araújo diz que Mercosul quer assinar compromisso ambiental para salvar acordo com UE

Araújo

Alvejado por todos os lados, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia segue em banho-maria, com poucas perspectivas de avanço nos próximos meses. O ponto de discórdia está na desconfiança que países europeus e ambientalistas dos dois lados do Atlântico mantêm sobre eventuais impactos da implementação do acordo sobre a situação ambiental no Brasil, em particular na Amazônia. Do lado brasileiro, o chanceler Ernesto Araújo afirmou ontem (2/3) que o Mercosul está disposto a assinar uma declaração ambiental complementar ao documento para facilitar o processo de ratificação pelos países europeus, sem dar detalhes sobre os termos dessa declaração, nem o que ela traria de novo em matéria ambiental para o acordo comercial entre os dois blocos.

Araújo também tentou limpar sua barra no que diz respeito ao relacionamento entre Brasil e Estados Unidos, minimizando as tensões. Sobre o dossiê apresentado por acadêmicos e representantes da sociedade civil dos EUA ao governo Biden, que sugeriu o endurecimento das relações com o Brasil por causa dos ataques de Bolsonaro ao meio ambiente e aos Direitos Humanos, Araújo acusou-o de ser “uma obra de ficção”. Curioso é que, nesse caso, a “obra de ficção” está pautada em dados reais, enquanto a “realidade” oferecida pelo chanceler parece bem menos sólida. O Globo e Valor repercutiram essas afirmações.

Em tempo 1: Falando nas relações Brasil-EUA, Mark Langevin (George Mason University) e Raoni Rajão (UFMG) escreveram no The Hill sobre como o governo Biden pode estruturar uma estratégia diplomática para convencer Bolsonaro & Cia. de que a cooperação internacional é o melhor caminho para promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia, preservando a floresta. O artigo defende o plano proposto por ex-negociadores climáticos dos EUA para proteção da Amazônia, com a criação de um fundo internacional para financiar atividades de conservação e o uso da política comercial como ferramenta de reforço à fiscalização e ao controle de cadeias de fornecimento. Os autores também propõem que Biden fortaleça o Pacto de Letícia, articulando com os países amazônicos ações estruturais para proteger a floresta de maneira mais integral.

Em tempo 2: No Valor, Raul Jungmann e Marcelo Furtado analisaram a estratégia climática apresentada pelo governo Biden nos EUA e ressaltaram as interações dessa agenda com questões de segurança nacional. Eles enxergaram similaridades com o caso brasileiro, mas reforçaram que esse debate precisa avançar no país, dentro e fora do Congresso Nacional.

 

ClimaInfo, 3 de março de 2021.

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