COP27 no Egito levanta preocupações sobre restrições a manifestações públicas durante negociações

COP27 Egito

Depois de seis anos, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27) retornará ao continente africano em 2022, com o evento programado para o resort egípcio de Sharm el-Sheikh, no extremo sul da Península do Sinai. Para os negociadores, será uma mudança bem-vinda: sai o frio característico das rodadas europeias e entra o calor ameno do outono no norte da África.

O mesmo não poderá ser dito por representantes da sociedade civil, que já se preocupam com as prováveis restrições que serão impostas a manifestações de rua pelo governo autoritário de Abdel Fatah al-Sisi, no Egito. O ditador chegou ao poder em 2013 por meio de um golpe de estado, derrubando o primeiro (e, por ora, o único) presidente eleito democraticamente no país, Mohamed Morsi. Desde então, al-Sisi governa o Egito com a mão-de-ferro tradicional de ex-ditadores militares do país, como o infame Hosni Mubarak.

“Acho que tanto o ambiente político do Egito quanto seu histórico específico de sediar conferências sugerem que há muito com que se preocupar”, afirmou Timothy Kaldas, do Tahrir Institute for Middle East Policy (EUA), ao Guardian. “Os protestos de rua estão proibidos, e muitas pessoas foram presas por protestar sem permissão do governo, o que quase nunca é concedido”.

No Washington Post, Maxine Joselow apontou que, mesmo com o esforço previsível do governo egípcio para “suavizar” sua fachada autoritária na COP27, as autoridades do país serão confrontadas na Conferência com suas políticas opressivas contra dissidentes políticos e líderes sociais. O que não se sabe é de que maneira responderão: afinal de contas, até mesmo a imprensa é perseguida no país, com jornalistas detidos pelo governo apenas por fazer cobertura de manifestações não autorizadas.

A preocupação não se limita à COP27. A COP28, no final de 2023, deve acontecer em outro país com ficha corrida de violações aos Direitos Humanos: os Emirados Árabes Unidos.

Em tempo: O governo de Boris Johnson vem celebrando o (moderado) sucesso diplomático da Conferência. Mas Esther Webber e Karl Mathiesen fizeram no POLITICO um apanhado de como o governo britânico lidou com a organização da COP de Glasgow, mostrando a comédia de erros protagonizada por Johnson antes e durante a COP: o vai-e-vem da atenção do premiê com o evento e a articulação política necessária para garantir seu sucesso; o desinteresse de ministros importantes do governo, como o chefe do tesouro Rishi Sunak e a ministra de relações exteriores Liz Truss, o que isolou o presidente da COP, Alok Sharma, na preparação para o encontro; entre outros escorregões desnecessários.

 

ClimaInfo, 23 de novembro de 2021.

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