África está na linha de frente, mas longe das manchetes, na luta contra a crise climática

Vanessa Nakate
AP Photo/Robert Bumsted

Uma situação incômoda, mas simbólica, trouxe atenção internacional à ativista ugandense Vanessa Nakate no começo de 2020. Ela participava do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, com outras ativistas climáticas, como a sueca Greta Thunberg. A Associated Press divulgou uma foto delas, mas fez um corte suspeito na imagem, deixando Vanessa de fora e mostrando apenas as jovens brancas e europeias. A edição provocou indignação nas redes sociais, que ressaltaram o preconceito da imprensa com a jovem negra africana.

Para ela, no entanto, isso não foi uma surpresa. “A África está na linha de frente da crise climática, mas não está nas primeiras páginas dos jornais do mundo”, afirmou Vanessa ao Guardian. “Todo ativista que fala está contando uma história sobre si mesmo e sua comunidade, mas se for ignorado, o mundo não saberá o que realmente está acontecendo, quais soluções estão funcionando. O apagamento de nossas vozes é literalmente o apagamento de nossas histórias e do que as pessoas valorizam em suas vidas”.

No entanto, ao invés de desanimar, Vanessa aproveitou o episódio para reforçar a importância do ativismo climático de populações negras e africanas no cenário internacional.

Na semana passada, a UNICEF reconheceu esse trabalho ao indicá-la como nova embaixadora da boa vontade, com a diretora-executiva da entidade, Catherine Russell, defendendo que a nomeação “ajudará a garantir que as vozes de crianças e jovens nunca sejam cortadas da conversa sobre mudanças climáticas – e sempre incluídas nas decisões que afetam suas vidas”.

Para a Associated Press, Vanessa ressaltou que a COP27, que acontece no Egito em novembro, ainda carece de um aspecto importante para que as pessoas tenham consciência dos impactos da mudança climática – a experiência humana real.

“O que realmente falta nessas conversas é o rosto humano da crise climática e acho que é realmente o rosto humano que conta a história, conta as experiências do que as comunidades estão passando. É o que também informa as soluções que as comunidades precisam porque muitas vezes há uma desconexão entre o que está sendo discutido [nas conferências] e o que as comunidades estão dizendo”, disse.

A Reuters também repercutiu a indicação de Vanessa Nakate como embaixadora da boa vontade da UNICEF.

Em tempo: Ainda sobre África, o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, aproveitou uma passagem por Dacar, no Senegal, para reforçar a posição do governo Biden em prol da ação climática. O representante norte-americano anunciou que o país pretende colaborar com seus parceiros africanos para desenvolver sistemas climáticos de alerta para aumentar a resiliência das comunidades aos efeitos da mudança do clima, noticiou a Bloomberg. Ao mesmo tempo, Kerry também alertou os países africanos contra novos investimentos em projetos de gás natural. A Reuters também destacou a fala.

 

ClimaInfo, 19 de setembro de 2022.

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