“Furacão geopolítico”: a COP27 e a crise climática em um mundo conflagrado

COP27
Ramon Keimig for Bloomberg Green

Quando a Conferência do Clima de Glasgow (COP26) se encerrou, em novembro passado, havia um otimismo tímido, mas generalizado, entre negociadores, observadores e até mesmo ativistas.

Mesmo depois da pandemia, de todos os problemas que ela causou antes e durante o encontro, das discussões travadas e mesmo o recuo pontual dos países na questão do carvão, o resultado final parecia bom e indicava um cenário mais ameno (claro, dentro dos padrões históricos da UNFCCC) para o ano seguinte. “A COP27, no Egito, será uma COP de implementação”, comentava-se nos corredores de Glasgow.

Um ano depois, o cenário não podia ser mais diverso. Como a Bloomberg assinalou, os negociadores se dirigirão a Sharm El-Sheikh no meio de um furacão geopolítico inédito desde o final da Guerra Fria. A guerra entre Rússia e Ucrânia colocou o mundo – e o mercado de energia – de cabeça para baixo. Os planos de transição energética apresentados em Glasgow, especialmente aqueles que indicavam um abandono do consumo de carvão para geração elétrica ainda nesta década, tiveram que ser reescritos às pressas, para evitar um colapso da segurança energética, especialmente nos países europeus e na China.

Coisas que pareciam pacificadas no ano passado voltaram a causar dor de cabeça em 2022. Os subsídios governamentais aos combustíveis fósseis aumentaram no último ano, com destaque para a busca desenfreada da União Europeia por novos fornecedores de gás natural para substituir a Rússia.

Para tanto, o bloco está disposto a gastar para criar uma nova infraestrutura que viabilize essa importação, o que certamente atrasará esforços mais robustos para distanciar o mercado europeu desse combustível nos médio e longo prazos.

O anfitrião desta COP27 também causa preocupação. O Guardian reportou que uma mudança de última hora no planejamento dos primeiros dias da Conferência causará o fechamento dos pavilhões governamentais e da sociedade civil no espaço oficial de negociação (a blue zone). De acordo com o governo egípcio, por questão de segurança relativa à presença dos chefes de Estado e de governo no começo da COP, todos os eventos marcados para o dia 7 de novembro foram suspensos nesses espaços, a menos que envolvam a participação desses líderes internacionais.

“Estamos preocupados com que o fechamento dos pavilhões durante o 1o dia da conferência tire os espaços críticos para o diálogo, interrompendo eventos e discussões importantes que são críticas para avançar com a agenda do net-zero”, reclamou James Lloyd, do pavilhão Nature Positive.

Já a Reuters destacou outros problemas operacionais que estão dificultando a participação da sociedade civil na COP27. Atrasos no credenciamento de observadores e jornalistas estão se repetindo e se arrastando, o que impede a emissão dos vistos exigidos pelas autoridades egípcias para entrada dessas pessoas no país. Outra questão, essa mais preocupante, é a possibilidade de o governo egípcio impedir a realização de manifestações públicas em Sharm el-Sheikh, com risco de detenção de ativistas.

 

ClimaInfo, 25 de outubro de 2022.

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