Palco da COP27, Egito convive com clima extremo e desertificação

COP27 Egito clima extremo
Mohamed Abd El Ghany / Reuters

Nos próximos dias, milhares de negociadores, observadores e jornalistas chegarão ao Egito para acompanhar a Conferência da ONU sobre o Clima. 

Quem vai para lá não deve esperar por clichês como pirâmides e ruínas de civilizações milenares do passado: a cidade escolhida para sediar o encontro, Sharm El-Sheikh, é mais conhecida pelas praias e pelo calor que dura praticamente o ano inteiro.

Literalmente isolada do resto do país, cercada por muros e policiada como se fosse fronteira, Sharm El-Sheikh não reflete bem o drama climático já experimentado pelos egípcios. Como a Bloomberg ressaltou, o país está em média quase 2ºC mais quente em relação ao começo do século XX. No último verão, uma onda de calor puxou os termômetros para além dos 40ºC no Cairo, maior e mais populosa cidade egípcia.

No delta do Nilo, um dos berços da civilização humana, agricultores convivem com condições cada vez mais complicadas para plantar e produzir. E ainda tem a questão da desertificação: hoje, 95% do território do país é coberto pelo Saara, que vem avançando sobre as margens do rio Nilo.

Além das dificuldades impostas pelo clima extremo, os egípcios também convivem com um ambiente político autoritário. A ditadura que governa o país quer aproveitar a COP27 para lustrar suas credenciais internacionais, mas segue perseguindo adversários e mantendo prisioneiros políticos em condições precárias.

A Associated Press informou que um dos dissidentes mais conhecidos do país, Alta Abdel-Fattah, iniciou uma “greve de fome total” durante a COP27 para chamar a atenção para sua situação e a de outros milhares de prisioneiros políticos.

A apreensão é grande entre organizações internacionais da sociedade civil que pretendem participar da COP27. A despeito do governo egípcio afirmar que manifestações de ruas serão permitidas durante a conferência, ainda existe dúvida sobre o risco de manifestantes serem acusados e processados no país, que possui leis draconianas que impedem protestos populares.

Um “cartão de visitas” indigesto aconteceu na última 3ª feira (1/11), quando quase 70 pessoas foram presas no Cairo sob acusação de organizarem manifestações não-autorizadas durante a COP.

Segundo a Reuters, um ativista indiano também foi brevemente detido enquanto realizava uma marcha solitária até Sharm El-Sheikh.

 

ClimaInfo, 3 de novembro de 2022.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.