O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez duras críticas à indústria de combustíveis fósseis, acusando as empresas do setor de vender uma “grande mentira” ao público sobre os riscos de seus produtos para o clima global. Para ele, o Big Oil ainda insiste na desinformação para negar sua responsabilidade e rejeitar qualquer mudança em seus negócios.
“Certos produtores de combustíveis estavam plenamente conscientes desde a década de 1970 de que seu principal produto estava aquecendo nosso planeta. E, assim como a indústria do tabaco, eles passaram por cima de sua própria mentira”, disse Guterres durante discurso no Fórum Econômico Mundial nesta 4ª feira (18/1).
A fala de Guterres lembrou a nova revelação feita por um estudo neste mês de que cientistas da Exxon sabiam do impacto potencial da queima de combustíveis fósseis sobre o clima global e inclusive fizeram projeções climáticas que praticamente anteciparam o que aconteceu nas décadas seguintes, com um aumento médio de 0,2ºC da temperatura média a cada dez anos.
Mesmo assim, a Exxon e outras gigantes petroleiras insistiram em campanhas de desinformação para menosprezar a gravidade da mudança climática ou até mesmo negar a existência do problema, só para continuarem vendendo combustíveis fósseis.
“Hoje, os produtores de combustíveis fósseis e seus facilitadores ainda estão correndo para expandir a produção, sabendo muito bem que esse modelo de negócios é inconsistente com a sobrevivência humana. Essa insanidade pertence à ficção científica, mas sabemos que o colapso do ecossistema é um fato científico frio e sólido”, afirmou Guterres.
Além das críticas à indústria fóssil, Guterres voltou à carga para cobrar os países desenvolvidos por mais financiamento para ação climática aos países em desenvolvimento, além de mais ambição nos compromissos nacionais de redução de emissões de carbono sob o Acordo de Paris.
O chefe da ONU também alertou os empresários sobre a responsabilidade do setor privado na viabilização desses objetivos e o risco do greenwashing não apenas para o clima, mas também para seus próprios negócios.
Os alertas de Guterres foram amplamente repercutidos na imprensa, com chamadas em Associated Press, Bloomberg, CNN, Guardian, Independent, Reuters e Valor, entre outros.
Em tempo: Ensanduichados entre as pretensões da energia renovável e a realidade de uma economia baseada na energia suja, os Emirados Árabes Unidos vão ter um desafio adicional para conseguir a confiança dos países e dos observadores na condução das negociações climáticas da ONU na COP28. No Valor, Daniela Chiaretti destacou os obstáculos que a “COP das Arábias” terá pela frente. “O que o mundo procura banir (a queima de combustíveis fósseis) é, para países que surgiram do petróleo, como morrer duas vezes – pelo clima e pelo fim da receita que alimentou a região nas últimas décadas. Não é um dilema fácil de enfrentar”.
ClimaInfo, 19 de janeiro de 2023.
Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.