Doações abaixo do necessário comprometem capacidade de Fundo Climático Verde

Fundo Climático Verde
Soonye Yoon / World Meterological Organisation / Flickr

Mais uma vez, países ricos fracassam e não cumprem meta de US$ 10 bilhões em novos recursos para o fundo da ONU para ação climática.

A mais recente rodada de captação de recursos para o Fundo Climático Verde (GCF, sigla em inglês) terminou sem que os países desenvolvidos conseguissem cumprir seu objetivo de destinar US$ 10 bilhões para o financiamento de ações climáticas no mundo em desenvolvimento.

Faltando menos de dois meses para a próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP28), o GCF arrecadou 9,3 bilhões de dólares, um montante insuficiente em face à demanda atual por recursos. O descumprimento da meta de US$ 10 bilhões neste ano pode dificultar não apenas a aprovação de novos projetos, mas também a continuidade do financiamento para projetos já aprovados.

Entre os países desenvolvidos, apenas Japão e Noruega anunciaram a doação de novos recursos ao Fundo durante uma conferência de doadores realizada na última 5ª feira (5/10) em Bonn, na Alemanha. Outros países, como Suécia, Itália e Suíça, afirmaram que pretendem destinar novos recursos ao GCF antes da COP28, mas o valor ainda está indefinido por conta de restrições orçamentárias.

Para frustração de muitos países em desenvolvimento, os Estados Unidos não anunciaram qualquer compromisso financeiro adicional ao GCF. O país interrompeu o fornecimento de recursos em 2019, ainda na gestão do ex-presidente Donald Trump, mas sinalizava para a possibilidade de retomar o financiamento. No entanto, a incerteza quanto ao orçamento federal no Congresso norte-americano inviabilizou a promessa.

O fracasso dos países desenvolvidos em oferecer novos recursos ao GCF irritou não apenas as nações em desenvolvimento, mas também a sociedade civil. Em nota, a coalizão Climate Action Network (CAN) criticou a “indiferença” dos governos ricos com o Fundo e a letargia na oferta de financiamento climático mesmo com a intensificação de eventos extremos ao redor do mundo.

“O GCF é fundamental para a estrutura de financiamento climático. É vital sublinhar que o financiamento público é fundamental para garantir que as nações vulneráveis recebam o apoio de que necessitam, especialmente para impulsionar os esforços de adaptação”, afirmou Harjeet Singh, chefe de estratégia política global da CAN. “O silêncio dos EUA, mesmo quando participam do Conselho do HCF e moldam políticas sem cumprir com suas obrigações financeiras, é flagrante e indesculpável”.

Climate Home, Euronews e Reuters repercutiram a notícia.

Em tempo: No Guardian, Fiona Harvey fez um perfil interessante sobre o presidente-designado da COP28, Sultan al-Jaber. CEO de uma das maiores petroleiras estatais do planeta, al-Jaber vem sendo questionado por ativistas climáticos e observadores das negociações internacionais por conta do óbvio conflito de interesse de ter alguém da principal indústria responsável pela crise climática no comando das discussões sobre caminhos para resolver o problema. “Não ter [o setor de] petróleo e gás e as indústrias com elevadas emissões na mesma mesa não é a coisa certa a fazer. Você precisa trazer todos eles. Precisamos reimaginar esta relação entre produtores e consumidores [de energia fóssil]. Precisamos dessa abordagem integrada”, defendeu.

 

ClimaInfo, 9 de outubro de 2023.

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