Shell corta recursos para renováveis, mas lança campanha em horário nobre sobre transição energética

10 de novembro de 2023
Shell greenwashing
Shell divulgação

Petroleira desistiu de reduzir sua produção de combustíveis fósseis e decidiu investir mais em petróleo e gás fóssil, mas quer “pagar de limpa” no Brasil.

O nome da nova campanha publicitária da Shell é inspirador: “Caminhos do Amanhã: O futuro da energia”. Numa mininovela de cinco capítulos, um casal se descobre “grávido”. Laura sugere “diminuir o consumo da nossa luz, da duração dos nossos banhos, reduzir o uso de sacolas plásticas”. Bruno pergunta por quê. Ela diz que precisam pensar no mundo que vão deixar para o filho. Ele retruca que não pode ser de uma hora para outra, que “tem que rolar uma transição”. Ela concorda, mas sentencia: “tem que ser rápida”.

A campanha foi lançada na 2ª feira (6/11) em horário nobre da TV Globo. Houve teasers de pré-lançamento em outros programas da emissora, e também na TV paga. Além disso, o site da petroleira ganhou uma página dedicada, “onde o público poderá encontrar mais informações sobre como a empresa investe e desenvolve seus pilares para o futuro da energia”, informam Nosso Meio e Propmark.

O grande problema, para variar, é que as ideias da campanha da Shell não correspondem às suas ações. Em maio, na assembleia anual da empresa em Londres, acionistas e ambientalistas lançaram o lema Go to hell, Shell, em protesto contra os novos planos da empresa de reduzir investimentos em renováveis e apostar na ampliação da produção de petróleo e gás fóssil. Para piorar, a empresa não alterou uma vírgula de seus planos de atingir o net zero. Mais uma vez, as ideias não correspondem aos fatos.

Mesmo no Brasil, faltou aos idealizadores da campanha da empresa combinar com seus executivos. Afinal, segundo o EnergiaHoje, o diretor geral de P&D da Shell Brasil, Olivier Wambersie, disse em um evento que é preciso acelerar a transição energética, mas com cautela para não colocar em risco a sustentabilidade de empresas de energia e a segurança no abastecimento.

Pobre Laura… A rapidez que ela quer na substituição dos combustíveis fósseis sujos e poluidores por fontes renováveis e limpas de energia para salvar o mundo para seu filho parece não estar nos planos da Shell.

Em tempo: A Shell quer uma indenização de US$ 2,1 milhões do Greenpeace, em uma das maiores ameaças legais de todos os tempos contra o grupo, depois que seus ativistas ocuparam uma plataforma da petroleira em movimento no início deste ano. No processo, a Shell pede um bloqueio indefinido de todos os protestos em sua infraestrutura no mar ou em portos, em qualquer lugar do mundo, ou a empresa fará reivindicações que podem chegar a US$ 8,6 milhões, se as empresas contratantes também exigirem indenização, informam Guardian e Reuters. Parafraseando a campanha publicitária da empresa no Brasil, esse é “o futuro da energia”.

 

ClimaInfo, 10 de novembro de 2023.

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