Onda de calor aumenta uso de térmicas a combustíveis fósseis, o que encarece conta de luz e eleva emissões

conta de luz
Gabriel Cabral/Folhapress

Petrobras confirmou que suas 12 usinas termelétricas já foram acionadas, e o mesmo ocorreu com as unidades da Eneva e da EDP instaladas no Nordeste.

As termelétricas brasileiras movidas a gás fóssil e carvão mineral estão a pleno vapor. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu acionar essas usinas na 2ª feira (13/11), por causa da explosão do consumo de energia provocada pelo calor infernal que toma conta do país. Os termômetros nas alturas fizeram a demanda elétrica atingir recordes por dois dias consecutivos, superando pela primeira vez os 100.000 megawatts na história.

Para se ter ideia do que isso representa, a demanda máxima superou 90.000 MW pela primeira vez somente em fevereiro deste ano, em pleno verão. Depois disso, o consumo no horário de pico ficou abaixo de 90.000 MW. Em setembro, a onda de calor no fim do inverno fez a demanda superar novamente essa marca, mas ainda abaixo dos 100.000 MW.

A Petrobras confirmou que suas 12 térmicas estão operando; o mesmo ocorreu com as plantas da Eneva e da EDP, informa O Globo. Mas nada disso vai sair barato. Primeiro, a energia termelétrica é bem mais cara que a gerada por fontes renováveis, e essa conta vai ser paga por nós, consumidores. Depois – e talvez a pior conta –, essas plantas emitem gases de efeito estufa, agravando uma das causas da onda de calor: a mudança climática. Um ciclo vicioso.

Para piorar, o ONS já prevê que as térmicas vão continuar ligadas até dezembro. Em geral, elas são acionadas em horários de pico por períodos específicos. Mas, segundo Tiago Correia, diretor da RegE Consultoria e ex-diretor da ANEEL, seu acionamento por mais tempo deve ser o “novo normal” por supostamente atenderem melhor à demanda instantânea por energia, relata o Valor.

Luiz Augusto Barroso, presidente da consultoria PSR, também acredita que as térmicas devem ser mais demandadas nos próximos meses, também segundo o Valor, sobretudo com a expectativa de que os efeitos do El Niño se estendam até abril do próximo ano. “A operação de recursos hídricos deve ser mais escassa com secas no Norte e caso o período chuvoso do Nordeste atrase.”

Apesar do acionamento das térmicas, técnicos do setor elétrico apontam que a situação poderia ser pior. Segundo eles, a consolidação da geração eólica e solar reduz a necessidade do despacho termelétrico na comparação com o passado, reduzindo o impacto ambiental.

Contudo, como de costume, basta uma necessidade pontual para que os lobistas dos combustíveis fósseis voltem a bradar em defesa do aumento das termelétricas na matriz brasileira. O que é absolutamente falacioso, como mostra o relatório lançado pela Coalizão Energia Limpa em maio.

O documento mostra que a demanda elétrica brasileira deve ser suprida com o aumento do peso das fontes renováveis na matriz de eletricidade, a partir de um sistema hidro-solar-eólico. Além dos preços mais baratos, a configuração reduz drasticamente as emissões do setor elétrico brasileiro. Passa-se, assim, de um ciclo vicioso para um virtuoso.

Jovem Pan e Canal Energia também trataram do acionamento das térmicas.

Em tempo: A ANEEL colocou em consulta pública o custo projetado pela agência em 2024 para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que concentra os subsídios da área de energia bancados pela conta de luz. O valor previsto está avaliado em R$ 37,2 bilhões, um crescimento nominal de 6,5% em relação ao orçamento de 2023 (R$ 34,9 bilhões), que já era considerado muito elevado, informa a Folha. A maior fatia está prevista para fontes incentivadas, o que inclui eólica e solar. A proposta, porém, é criticada pelos consumidores de energia. Afinal, os preços da energia gerada por essas fontes já se tornou bastante competitivo, o que não justificaria os subsídios, que beneficiam poucos e são pagos por todos.

 

ClimaInfo, 17 de novembro de 2023.

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