Documentos reunidos pelo Center for Climate Integrity sugerem que setor investiu em projetos ligados a lixo para evitar regulação da produção e expandir seus mercados.
Não basta às “Big Oil”, grandes petroleiras que jogam diariamente milhões de barris de combustíveis fósseis no planeta, “apenas” serem as maiores causadoras das mudanças climáticas. Elas precisam também esconder dados que colhem mostrando seus impactos para continuar gerando lucros extraordinários – como os do ano passado -, pouco importando o sofrimento que causam a milhões de pessoas.
A Exxon, por exemplo, sabia desde os anos 1970 os impactos do petróleo no clima da Terra. E agora, um levantamento do Center for Climate Integrity (CCI) mostra que a indústria do plástico – um derivado dos combustíveis fósseis – escondeu informações sobre a real viabilidade da reciclagem como solução para os milhões de toneladas de resíduos descartados todos os anos. Com isso, garantiu a expansão de seus mercados, ao mesmo tempo em que ampliou a crise ambiental e climática.
O estudo traz documentos inéditos da indústria do plástico nos Estados Unidos que indicam limites da reciclagem já apontados por investigações anteriores, às quais o CCI faz referência. São relatórios internos, apresentações de conferências do setor e notas de um funcionário do Conselho Americano do Plástico, uma das principais entidades comerciais dos anos 1980 e 1990, detalha a Folha.
O plástico é notoriamente difícil de reciclar. Isso requer uma triagem meticulosa, uma vez que a maioria das milhares de variedades quimicamente distintas do produto não pode ser reciclada em conjunto, o que torna um processo já caro ainda mais custoso. E o material se degrada cada vez que é reutilizado: geralmente isso só pode ser feito uma ou duas vezes. A indústria sabe há décadas desses desafios, observa o Guardian, mas omitiu essa informação nas suas campanhas de marketing, mostra o documento do CCI.
Campanhas fraudulentas de marketing e de (des)educação pública foram feitas para promover o plástico como reciclável, apesar de não ser uma solução viável, informa o Euronews. Essas estratégias permitiram a expansão da indústria dos plásticos descartáveis, evitando ao mesmo tempo a regulamentação para abordar eficazmente os resíduos e a poluição, afirma o relatório.
“Quando as empresas e os grupos comerciais sabem que os seus produtos representam graves riscos para a sociedade e depois mentem ao público e aos decisores políticos sobre isso, devem ser responsabilizados. Responsabilidade significa parar de mentir, dizer a verdade e pagar pelos danos que causaram”, afirmou o presidente da CCI, Richard Wiles.
Vale lembrar que, em novembro do ano passado, a 3ª rodada de negociações para a elaboração de um tratado para acabar com a poluição global por plástico foi encerrada sem um acordo, após uma semana de negociações tensas. Ambientalistas acusaram os países produtores de petróleo de empregar, com sucesso, táticas de protelação destinadas a enfraquecer o acordo.
A mentira da indústria do plástico também foi destacada no Environment Energy Leader, New Republic e npr.
ClimaInfo, 28 de fevereiro de 2024.
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