Estudo em cidades do interior de Minas Gerais ao longo de 10 anos registrou aumento da incidência de dengue, assim como a elevação da temperatura.
Um levantamento inédito feito pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) mostrou que, das 20 cidades brasileiras que mais sofreram com calor extremo em 2023, 18 estão em Minas Gerais. Agora, outro estudo mostra que municípios mineiros que registraram temperaturas mais altas ao longo de 10 anos também sofreram com o aumento de casos de arboviroses, em especial da dengue. O que reforça a correlação entre a doença e as mudanças climáticas, o que a Fiocruz já havia apontado.
De acordo com a pesquisa, feita por cientistas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e publicada nos Cadernos de Saúde Pública, cidades de Minas Gerais com média de temperaturas mínimas diárias de 21,2°C tiveram mais casos de dengue entre 2010 e 2019. O levantamento de variação de temperatura considerou 38 microrregiões do estado, com uso de dados do European Centre for Medium-Range Weather Forecasts, cruzados aos casos de dengue, o DataSUS, explica a CNN.
Segundo o estudo, a incidência de dengue e a temperatura mínima da atmosfera têm uma relação que os pesquisadores chamam de não linear, isto é, não aumenta igualmente uma para a outra, detalha a Folha. Dependendo da intensidade, essa variável pode ser fator de risco ou de proteção: o frio moderado e extremo funciona como fator “protetivo”, e o calor moderado é associado a um maior risco de infecções.
A variação da temperatura mínima do ar foi ampla, de 2,5oC, em Pouso Alegre, a 26,5oC, em Frutal e Ituiutaba. Estudos estimam que a faixa de temperatura ideal para o mosquito Aedes Aegypti, causador da dengue, seja de 16oC e 34oC – e que suas larvas morrem em poucos dias em lugares com menos de 8oC.
O aumento das temperaturas provocado pelas mudanças climáticas pode levar à expansão da fronteira do Aedes Aegypti. Dessa forma, o mosquito passa a alcançar e se reproduzir em regiões onde, antes, o clima mais frio não permitia.
“Temos que ficar atentos ao sul de Minas. Em nossa análise, essas cidades, coincidentemente mais frias, possuíam uma incidência muito menor”, alertou João Pedro Medeiros Gomes, coautor do estudo. A emergência climática aumenta a frequência de eventos extremos e as ondas de calor podem ser um “momento perfeito” para proliferação do mosquito e consequentemente da dengue.
“Com as mudanças climáticas, elas vão aumentar e sem medidas efetivas para frear a dengue, como a vacinação, podemos pensar que o mesmo pode acontecer com a doença”, ressaltou Gomes.
No final da semana passada o Brasil atingiu a marca histórica de 2 milhões de casos prováveis de dengue, informa o Estadão. De acordo com o Ministério da Saúde, o coeficiente de incidência da doença em 2024 é de 990,3 a cada 100 mil habitantes. Trata-se de um número impressionante quando se compara com a base estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para definir uma situação de epidemia, que é de 300 casos a cada 100 mil habitantes.
Ainda segundo a pasta, foram confirmadas 715 mortes pela doença em todo o país, relata a CNN. E existem outros 1.078 óbitos sendo investigados por supostamente terem relação com a doença.
Em tempo: A explosão da dengue no Brasil é motivo de preocupação mundial. A BBC analisou reportagens em veículos estrangeiros sobre a doença, e os textos discutem, principalmente, o que o avanço recorde de casos de dengue no Brasil e em outros lugares significa para a saúde global nos próximos anos. O NY Times, por exemplo, fala em “prenúncio de uma crise de saúde para as Américas”, e o Washington Post, que chama a crise de dengue no Brasil de “impressionante”, diz que é “um alerta para o mundo”.
ClimaInfo, 26 de março de 2024.
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