Indígenas reocupam fazendas onde gado ilegal era criado com trabalho escravo no PA

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Fernando Martinho/Repórter Brasil

Nível de tensão continua elevado um ano após retomada do território, com dois episódios de violência contra os indígenas em pouco mais de um mês.

Um ano depois de recuperar a posse de seu território, o Povo Parakanã está movendo parte de sua população das margens do rio Xingu para o interior da Terra Indígena Apyterewa, no Pará. Oito novas aldeias estão sendo abertas. No entanto, o ataque contra os indígenas continua.

Antes da reocupação pelos Parakanã, o Ministério Público Federal (MPF) rastreou 177 propriedades rurais formalmente registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) dentro da TI, explica a Repórter Brasil. As fazendas eram ilegais, já que os registros foram abertos posteriormente à homologação da Terra Indígena, aponta um relatório do MPF sobre a ocupação dos invasores. “É grave que a Agência de Defesa Sanitária do Pará [ADEPARÁ] tenha admitido a abertura de registros na Terra Indígena, formalizando áreas que foram ocupadas ilegalmente”, diz o órgão.

Uma estimativa do IBAMA e da ADEPARÁ indicou a presença de 60 mil cabeças de gado na TI na época da invasão. Segundo o MPF, a pecuária era o principal vetor de desmatamento e grilagem – o que não surpreende. Dos 773 mil hectares totais, uma área um pouco maior que o Distrito Federal, mais de 100 mil ha já foram devastados, dos quais 91 mil hectares foram transformados em pastagem.
Uma dessas propriedades era a antiga Fazenda Sol Nascente, de Antônio Borges Belfort – recém-empossado vereador de São Felix do Xingu e réu na Justiça Federal por criar gado ilegal na Terra Indígena e por usar trabalho escravo nesta propriedade.

Para os Parakanã, a criação de novas aldeias é necessária para manter longe os invasores e reflorestar a TI Apyterewa. “O governo fez sua parte. Agora é preciso um esforço de vigilância para segurar nosso território”, defendeu Tye Parakanã, uma das lideranças locais.

No entanto, a reocupação elevou o nível de tensão na TI. Dois confrontos com invasores aconteceram desde dezembro, relata a Repórter Brasil. Três indígenas Parakanã trocaram tiros com invasores na TI em 25 de janeiro. Um mês antes, em 18 de dezembro, a aldeia recém-construída Tekatawa havia sido alvo de um ataque armado.

Desde a operação de desintrusão, que em 2023 retirou centenas de invasores da Apyterewa, os indígenas dizem que se mantêm em estado de guerra. Eles circulam pela área armados com espingardas, facas, arco e flechas e escoltados pela Força Nacional e FUNAI. Com frequência, artefatos de ferro pontiagudos enterrados por invasores nas estradas de terra precárias furam os pneus das caminhonetes das equipes de monitoramento.

Na semana passada, a Polícia Federal deu início à segunda fase da operação Abigeatus, que tem como alvos pessoas suspeitas de roubar gado apreendido na Terra Apyterewa. Até o momento, os animais permanecem dentro da TI, à espera de destinação pela Justiça. Um homem foi preso e materiais foram apreendidos, informam g1 e Metrópoles.

Em tempo: Em Roraima, o Exército ativou o Destacamento Especial de Fronteira (DEF) em Waikás, às margens do rio Uraricoera, para fortalecer a vigilância e proteção da Terra Indígena Yanomami. A localidade foi escolhida estrategicamente pela proximidade com áreas historicamente afetadas pelo garimpo ilegal, explicam Folha BV e Revista Cenarium. A unidade permitirá operações integradas aéreas e fluviais, facilitando o monitoramento da TI e agilizando a resposta contra invasores.

 

 

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ClimaInfo, 04 de fevereiro de 2025.

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