
A Noruega é constantemente apontada como um modelo na transição energética global. Um exemplo disso é que todos os carros de passeio vendidos em território norueguês a partir deste ano deverão ser elétricos, meta atingida uma década antes da União Europeia.
Mas, na melhor linha “faça o que eu digo, não o que eu faço”, a Noruega tem cerca de 20% de seu PIB atrelado a receitas da indústria de combustíveis fósseis. Na 4ª feira (5/2), a petroleira Equinor, ex-Statoil, mas que continua sendo controlada pelo governo norueguês, como ocorre com a Petrobras e o governo brasileiro aqui, anunciou um corte de 50% nos seus investimentos em fontes renováveis, enquanto projeta aumentar sua produção de petróleo e gás fóssil. Ou seja, o lema “drill, baby, drill” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atravessou o Atlântico.
Os investimentos da Equinor em energia renovável e outras tecnologias de baixo carbono até 2027, antes previstos em US$ 10 bilhões, serão de US$ 5 bilhões. Enquanto isso, a empresa aposta no aumento da produção de petróleo e gás fóssil e faz lobby para liberar Rosebank, um imenso campo de combustíveis fósseis na parte britânica do Mar do Norte, destaca o Guardian.
O recuo da Equinor ocorre cerca de dois meses após a petroleira ter investido US$ 2,3 bilhões em uma participação na gigante eólica dinamarquesa Oersted, informam Bloomberg [em matéria traduzida pelo Valor] e New York Times. Como resultado do corte nos investimentos, a empresa também reduziu sua capacidade de geração renovável de energia projetada para 2030, de uma fatia entre 12 e 16 gigawatts (GW) para algo entre 10 GW e 12 GW, relata o Financial Times, em matéria traduzida pela Folha.
Se corta os aportes em renováveis, a petroleira do governo norueguês aumenta os números de produção de combustíveis fósseis. Segundo o Capital Reset, para “criar valor para os investidores pelas próximas décadas”, a Equinor vai aumentar em 10% sua produção de petróleo até 2030, afirmou seu CEO, Anders Opedal. A meta é atingir a produção de 2,2 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) diários até lá.
Infelizmente, o recuo nos investimentos em renováveis e a aposta em mais combustíveis fósseis não é exclusividade da norueguesa Equinor. Outras duas petroleiras europeias, Shell e BP, também já haviam anunciado essa mudança de rumo. Pior: vão tentar explicar essa aposta em mais energia suja como necessária para “financiar” a transição energética. Quando se sabe que as petroleiras respondem por apenas 1% dos investimentos em fontes renováveis.