“Mutirão” é chave para retomar cooperação climática global, defende presidente da COP30

Brasil aposta na ideia de “mutirão” para angariar apoio dos países para a COP30 e driblar impactos da saída dos EUA do Acordo de Paris.
31 de março de 2025
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Estevam/Audiovisual/PR

A carta publicada no mês passado pelo presidente-designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, lançou a ideia de “mutirão” no vocabulário das negociações climáticas. Para o governo brasileiro, a retomada da cooperação coletiva entre os países é chave não apenas para a ação global contra a crise climática, mas também para o fortalecimento do multilateralismo em um contexto de crises geopolíticas simultâneas que ameaçam a ordem internacional.

“A essência do mutirão é cada um fazer a sua parte, [assim como] o marceneiro faz o que sabe, o pedreiro faz o que sabe, quem tem um carro empresta o automóvel. Não é todo mundo fazendo a mesma coisa, mas cada um fazendo alguma coisa”, explicou Corrêa do Lago à Agência Pública. “O mutirão é a gente construir o que vai dar para ter como resultado na COP”.

Recém-chegado de Berlim, onde participou dos Diálogos Climáticos de Petersberg na semana passada, Corrêa do Lago disse que a recepção dos países às propostas do Brasil para a COP30 tem sido positiva, inclusive à ideia de mutirão. “Muitos países ensaiaram pronunciar a palavra ‘mutirão’. Foi simpático. É engraçado que não tem uma tradução de mutirão em uma palavra. Mas o conceito do que propusemos foi entendido”, afirmou.

Além de engajar governos, empresas e sociedade civil, a ideia de mutirão visa também desarmar uma bomba potencial para as negociações em Belém em novembro – a saída dos Estados Unidos de Donald Trump do Acordo de Paris. O presidente da COP30 reiterou sua análise ao dizer que a agenda climática seguirá forte entre as empresas e os estados norte-americanos, apesar do negacionismo da Casa Branca, mas reconheceu que a situação traz preocupação.

“O fato é que não há a menor dúvida de que há uma crise institucional pela ausência dos Estados Unidos e uma crise de credibilidade por uma certa frustração que se estabeleceu com relação a Baku [COP29, no ano passado]”, destacou o diplomata.

A mesma preocupação é compartilhada por um antecessor importante de Corrêa do Lago: o ex-primeiro-ministro francês Laurent Fabius, que presidiu a COP21 em 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris. Em conversa nesta 2ª feira (31/3) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Fabius disse que a França trabalhará pelo sucesso da COP30.

“Esperamos muito de Belém. Temos uma situação paradoxal, pois é um momento em que os danos causados pelo aquecimento global estão maiores. Temos a sensação de que em certos países, estou pensando nos EUA, por exemplo, há um retrocesso. E é exatamente o contrário: precisamos avançar”, disse o ex-premiê francês.

“Fizemos muitas coisas desde Paris, mas ainda existem o que chamamos de lacunas nas emissões [cortes nas emissões que precisam ser feitos para que estabilizemos o aquecimento global em 1,5oC]. E, portanto, faremos o máximo para que os problemas sejam tratados. E tenho grande confiança no Brasil”, destacou Fabius, citado por Folha e Valor.

  • Em tempo 1: Outra aposta do governo brasileiro para a COP30 é a concretização do Tropical Forest Forever Fund (TFFF), um novo fundo de investimento que visa destravar o financiamento para a proteção de florestas tropicais em todo o mundo. Capitaneada pelo Ministério da Fazenda, a proposta visa romper a dependência de países ricos no financiamento dessas medidas, um modelo em xeque depois dos cortes orçamentários nos EUA e na Europa para ajuda internacional, além de angariar o interesse do capital privado. O Globo deu mais detalhes.

  • Em tempo 2: Os Povos Indígenas da Amazônia estão em campanha para incluir a demarcação de terras como uma das metas da política climática no Brasil. O principal objetivo é ter o reconhecimento da importância dos Povos Originários na luta contra a crise climática e conter as ameaças aos direitos indígenas, sintetizadas na questão do marco temporal que visa restringir o direito à terra. A mobilização vem sendo liderada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), com foco na COP30. A notícia é do InfoAmazonia.

  • Em tempo 3: Apesar das obras de infraestrutura para preparar Belém para sediar a COP30, a capital paraense ainda figura em uma posição ruim no ranking de acesso ao saneamento básico no Brasil. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico (SNISA), levantados por O Globo, menos de 20% da população da cidade são atendidos pelo serviço, taxa que corresponde a praticamente um terço da média nacional.

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