
A situação é dramática para quem estuda ciência climática nos EUA. Um dos principais polos de pesquisa científica global na área caminha para o colapso absoluto depois do governo do presidente Donald Trump sinalizar cortes devastadores no orçamento das duas principais agências científicas do país, com o potencial de fechar centros de pesquisa e departamentos especializados em clima.
A imprensa norte-americana teve acesso a documentos internos da Casa Branca que indicam reduções draconianas nos orçamentos da agência espacial NASA e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA). Os cortes atingirão investimentos em pesquisa, bolsas, parcerias e programas relacionados ao clima, sob a justificativa de que eles estariam “desalinhados com a vontade expressa do povo norte-americano”.
Um exemplo da brutalidade dos cortes orçamentários em estudo é o Escritório de Pesquisa Oceânica e Atmosférica (OAR), parte da NOAA. Segundo o Guardian, o orçamento seria reduzido de US$ 485 milhões para apenas US$ 171 milhões, o que desmantelaria áreas inteiras de pesquisa científica sobre o clima. Esses cortes interromperiam não apenas a produção de conhecimento sobre a crise climática, mas também paralisaria as atividades em áreas mais gerais, como previsões meteorológicas.
“A eliminação do escritório de pesquisa da NOAA e de todas as suas capacidades de pesquisa é um golpe esmagador para a capacidade do nosso país de proteger nossos cidadãos e também de liderar o mundo”, lamentou Rick Spinrad, ex-administrador da NOAA. Já o senador democrata por Maryland, Chris Van Hollen, comentou que a medida colocará comunidades em risco e “deixará os EUA mais vulneráveis a desastres naturais destrutivos e custosos”, segundo a CNN.
O orçamento que está sob análise pela gestão Trump também reduz o financiamento para outros órgãos sob a NOAA, como o Serviço Oceânico Nacional e o Serviço Nacional de Pesca Marinha. Já a NASA prevê uma redução de mais de 20% em seu orçamento, com cortes mais profundos direcionados a programas que supervisionam a ciência planetária, a ciência da Terra e a pesquisa astrofísica.
Mesmo sem a confirmação dos cortes pela Casa Branca, o processo de desmonte está a todo vapor na NOAA. O Guardian destacou que centenas de funcionários da agência foram comunicados de sua demissão na semana passada. O contingente é formado majoritariamente por funcionários em estágio probatório, que tinham sido dispensados no final de fevereiro, mas foram recontratados depois de uma decisão judicial no mês passado. Com a derrubada da liminar, as demissões foram novamente efetivadas.
Além de paralisar a ciência climática nos EUA, a ofensiva negacionista de Trump também pode apagar do mapa décadas de pesquisa científica sobre o tema. O NY Times destacou o trabalho frenético de pesquisadores e centros independentes de pesquisa nos EUA que correm contra o tempo para salvar e preservar dados relacionados a mudanças climáticas, energia, meio ambiente e saúde pública antes de serem apagados pela Casa Branca. A Folha publicou uma tradução da reportagem.
AFP, Axios, CBS News, NY Times, POLITICO, Reuters e Washington Post, entre outros, repercutiram os cortes potenciais na NOAA e na NASA.