Indígenas resistem à pressão de petroleiras na Amazônia equatoriana

Equador tem 16% de sua área concedida a petroleiras e é o país latino-americano com mais Terras Indígenas afetadas pela exploração.
24 de abril de 2025
indígenas petroleiras amazônia equatoriana
Diego Lucero/InfoAmazonia

O primeiro poço de petróleo foi perfurado na costa do Equador em 1911, mas foi apenas em 1972 que o combustível fóssil se consolidou como o pilar da economia nacional, com a expansão da atividade para a Amazônia equatoriana. Desde então, é um dos principais produtos de exportação do país. Porém, junto com a exploração vieram impactos devastadores ao meio ambiente, bem como a Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais.

O caso Chevron é o mais emblemático, tanto pelos danos causados quanto pelo litígio que ganhou repercussão internacional. A empresa estadunidense despejou mais de 16 bilhões de galões de resíduos tóxicos no norte da Amazônia equatoriana por quatro décadas, até o início dos anos 1990.

Mas não foi um caso isolado, nem a única região afetada. Apenas entre 2012 e 2022 ocorreram 1.584 vazamentos de petróleo, principalmente devido à falta de manutenção dos oleodutos, segundo o Ministério do Meio Ambiente, Água e Transição Ecológica. Atualmente, ocorrem pelo menos dois derramamentos por semana no país. Um vazamento de grande porte ocorreu recentemente em um oleoduto na província de Esmeraldas, no noroeste do país. O óleo contaminou pelo menos três rios e chegou ao Oceano Pacífico.

Apesar do histórico, os dois últimos governos, de Guillermo Lasso e Daniel Noboa, este recentemente reeleito, apresentaram planos para expandir a fronteira petrolífera focando justamente no sudeste da Amazônia, em áreas próximas ao bloco 10, onde há aldeias indígenas. O bloco cobre 2 mil km² e registra uma produção diária de 8,1 mil barris de petróleo. Nele há três campos petrolíferos, que, juntos, somam 30 poços já perfurados.

Desses, 21 estão em operação, todos sob gestão da Pluspetrol, cuja concessão se estende até o final de 2033. A empresa é propriedade da família Rey Rodríguez, uma das mais ricas da Argentina, mas tem sede na Holanda.

Em outubro de 2024, a equipe do GK – veículo de imprensa equatoriano do projeto “Até a Última Gota”, integrado pela InfoAmazonia – percorreu o bloco 10, por onde a exploração avança, apesar da resistência de alguns grupos indígenas. Ao longo de 35 anos, a exploração da área pelas petroleiras Arco-Oriente, Agip Oil e Pluspetrol desencadeou conflitos familiares e divisões entre as lideranças indígenas.

Leonardo Viteri conhece as práticas das petroleiras. Com quase 40 anos de atuação na região, ele já liderou diversas organizações indígenas e participou de negociações com as três empresas. Viteri lembra que a chegada da Arco-Oriente ocorreu “sem nenhum tipo de processo de consulta, sem nenhum tipo de acordo”.

No final de 1999, a Arco-Oriente deixou o país, e no ano seguinte a Agip Oil assumiu o bloco 10. A nova operadora manteve estratégias semelhantes para dividir os indígenas e firmou contratos para melhorar o acesso à saúde com organizações que não eram reconhecidas pela Organização dos Povos Indígenas de Pastaza (OPIP).

Há quase dois anos, em agosto de 2023, os equatorianos votaram pelo fim da exploração no bloco 43-ITT, localizado no Parque de Yasuní. A estatal Petroecuador, responsável pelo projeto, tinha até outubro de 2024 para encerrar as operações e retirar os equipamentos. O que não aconteceu até hoje.Além do impacto da indústria petrolífera entre indígenas do Equador, a série “Até a última gota” mostrou como a Amazônia se tornou a nova fronteira exploratória de petróleo nos últimos anos; a ação de petroleiras no Brasil para estender contratos à espera da licença do IBAMA para a Petrobras na foz do Amazonas; os imensos problemas socioambientais que a Exxon promove na Guiana com a exploração de combustíveis fósseis no país; a pressão da indústria petrolífera, de um lado, e de grupos guerrilheiros, de outro, sobre Povos Indígenas da Amazônia colombiana; e como os royalties gerados pela atividade petrolífera no Peru não levam desenvolvimento à Amazônia peruana.

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