ClimaInfo, 18 de setembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

O CLIMA E OS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA

O Observatório do Clima perguntou “O que o seu candidato vai fazer a respeito do clima?” Para responder à pergunta, foram analisadas as propostas de sete candidatos: Alckmin, Amoêdo, Bolsonaro, Boulos, Ciro, Haddad, e Marina. O resultado da análise é apresentado em uma tabela com 16 temas (não nessa ordem): descarbonizar a economia, a matriz elétrica, o transporte, a indústria, a agricultura; combater o desmatamento e restaurar florestas; proteger unidades de conservação e demarcar territórios; consolidar o licenciamento ambiental; fontes renováveis de energia e desinvestir nos fósseis; resíduos; o Acordo de Paris; e o plano de adaptação. A tabela de cores mostra com clareza que Marina e Haddad desenvolveram quase todos os temas, muitos com compromissos específicos. Boulos tratou de quase todos. Ciro, Alckmin e Amoedo deram pinceladas em menos da metade dos temas, sendo que os dois últimos ganharam uma nota vermelha por ir contra o desinvestimento em fósseis. Bolsonaro é o que tomou mais vermelhos, 6 no total, com apenas uma menção “verde” às fontes renováveis. Recomendamos a leitura da matéria de Andrea Vialli, pelos comentários interessantes feitos sobre cada candidato.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/o-clima-nas-eleicoes/

 

PROPOSTAS DA COALIZÃO, DO CEBDS E DO CEBRI PARA O PRÓXIMO GOVERNO

O que não falta em tempos eleitorais são propostas para o futuro governo. Achamos importante repercutir as que foram formuladas por três organizações, e recomendamos a leitura dos documentos.

A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura lançou, no mês passado, 28 propostas que priorizam a recuperação da cobertura florestal em áreas de recarga dos aquíferos e em terras de baixa aptidão para a agricultura, o avanço da regularização fundiária e a extensão do monitoramento hoje feito na Amazônia para todos os biomas. A Coalizão acaba de colocar no ar um hotsite (1o link abaixo) com as 28 propostas, no qual é possível enviar mensagens automáticas aos candidatos em apoio às propostas.

O Cebds (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) lançou 10 propostas voltadas para a transição para uma economia de baixa emissão e o cumprimento dos compromissos internacionais sobre clima, biodiversidade e sustentabilidade. Uma das propostas é zerar o desmatamento líquido em todos os biomas.

O Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) fez uma série de propostas para o próximo governo com destaque para o setor energético, compreendendo eletricidade, petróleo e gás, agrupadas em 5 grandes temas: competitividade, governança, segurança jurídica, inovação e redução de emissões. O Cebri dá destaque à necessidade da elaboração de um plano nacional de mobilidade elétrica, posto que “tal revolução na mobilidade, impulsionada também por compartilhamento e tecnologia autônoma, decorre de uma forte sinalização de mercado, onde estimativas indicam que mais de 55% das vendas e 33% da frota global seja composta por veículos elétricos em 2040”.

http://cebds.org/publicacoes/agenda-cebds-por-um-pais-sustentavel-2/#.W5_xxKZKjGg

http://www.coalizaobr.com.br/pelobomusodaterra/

https://epbr.com.br/cebri-propoe-plano-nacional-de-mobilidade-eletrica-para-proximo-governo/

 

PARA FALAR DO CLIMA

Escreve-se e fala-se muito das mudanças climáticas e de seus impactos, mas esta grande produção não parece se refletir nas atitudes de eleitores, consumidores, políticos e executivos do setor privado. A comunicação das mudanças climáticas é difícil, a ponto da BBC ter há pouco emitido uma orientação interna sobre como fazê-lo. Talvez não baste simplesmente melhorar a comunicação, mas pensar nela ajuda, certamente. Um artigo no Climainfo traz o resultado de algumas pesquisas recentes no campo das ciências sociais que podem nos ajudar a melhorar a comunicação das mudanças climáticas. O segundo link traz as recomendações da BBC a seus jornalistas

http://climainfo.org.br/2018/09/17/para-melhorar-a-comunicacao-das-mudancas-climaticas/

http://climainfo.org.br/2018/09/10/bbc-emite-orientacao-interna-sobre-como-reportar-a-mudanca-do-clima/

 

MUDANÇA DO CLIMA É AMEAÇA AO FUTURO DAS EXPORTAÇÕES AGRÍCOLAS BRASILEIRAS

O Brasil é atualmente o 3o maior exportador de produtos agropecuários. A FAO acaba de soltar a versão 2018 do seu relatório sobre commodities que classifica o todo da União Europeia em primeiro lugar, com 41% do mercado, os EUA em segundo com 11% e o Brasil com 5,7%. Neste século, o Brasil ultrapassou o Canadá e a Austrália.

Maria Cristina Frias escreve na Folha de S. Paulo sobre as projeções da consultoria McKinsey, que indicam que a demanda por proteína vegetal vai aumentar nos próximos tempos e que a soja brasileira estaria bem posicionada para ocupar este crescente mercado. Hoje, 70% da soja exportada vira ração animal e 2% vai para industrialização. Daqui a dez anos, esta segunda fração deve passar a 10%.

A FAO diz em letras maiúsculas que as “mudanças climáticas vão afetar a agricultura global de forma desigual, melhorando as condições de produção em alguns locais. Mas afetando outros e criando ‘vencedores’ e ‘perdedores’”. Olhando para os resultados dos modelos climáticos, o impacto sobre a área hoje cultivada pode ser grande, com reduções significativas da quantidade de chuva nas regiões produtoras por conta do desmatamento da Amazônia. O mesmo acontece no Cerrado, agravado pela mudança na hidrologia dos rios que hoje irrigam muitas plantações. Assim, os produtores deveriam ser os primeiros na frente de combate ao aquecimento global.

http://www.fao.org/3/I9542EN/i9542en.pdf

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-passa-a-ser-3-maior-exportador-agricola-mas-clima-ameaca-futuro,70002506105

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2018/09/mudanca-em-habitos-alimentares-e-oportunidade-para-soja-brasileira-diz-consultoria.shtml

 

BANCO HOLANDÊS AVALIARÁ EMPRÉSTIMOS DE US$ 600 BI COM BASE NO IMPACTO CLIMÁTICO

O banco holandês ING começará a avaliar sua carteira de empréstimos de US$ 600 bilhões com base nos impactos desta sobre as mudanças climáticas, um primeiro passo na mudança de todo o portfólio de modo a alinhá-lo às reduções de emissões de carbono exigidas pelo Acordo climático de Paris. A política, a primeira do tipo de um grande banco, incluirá a pressão sobre os clientes cujos negócios não estão em conformidade com as metas climáticas. Isabel Fernandez, chefe de serviços bancários de atacado, disse ao Financial Times que “podemos nos envolver com as empresas que precisem de mais ajuda.”

https://www.ft.com/content/a85cdacc-b833-11e8-bbc3-ccd7de085ffe

 

PRESERVAR PAISAGENS É IMPORTANTE PARA A CONTENÇÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL

Apesar de emitir entre 20 e 25% das emissões globais, os setores envolvidos na mudança do uso da terra receberam, segundo o WWF, só 3% dos recursos climáticos. A preservação de paisagens, a conservação dos estoques de carbono em florestas, manguezais e no próprio solo é cada vez mais importante para conter o aquecimento global em 1,5oC.

Além do desmatamento da Amazônia e das matas da Indonésia e da Malásia, na semana passada, na Cúpula do Clima em São Francisco, foram discutidas inúmeras outras situações onde a paisagem está sendo ameaçada. No mundo desenvolvido, o tema gira em torno dos grandes incêndios florestais da costa oeste norte-americana e, na Europa, da Espanha, Portugal, Grécia e até Suécia. A destacar o caso do Havaí, que está restaurando matas porque, nas palavras do governador, David Ige, “temos mais terra apta para a agricultura do que precisamos para produzir o que comemos”.

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/09/15/146353-conservacao-do-solo-ganha-destaque-como-solucao-para-mudanca-climatica.html

https://www.reuters.com/article/us-global-climatechange-land/land-conservation-steps-into-limelight-as-key-climate-change-fix-idUSKCN1LU2MW

 

AGRICULTURA GLOBAL AQUECE O GLOBO E POUCO MITIGA SUAS EMISSÕES

Durante a Cúpula do Clima de São Francisco, também se falou sobre os (poucos) esforços dos países para reduzir as emissões da agropecuária. A consultoria BSR (Business for Sustainable Responsibility) analisou as NDCs, os compromissos que os países assumiram perante o Acordo de Paris, e encontrou ações de mitigação específicas para o setor nas NDCs de somente 27 países.  Segundo Zitouni Oul-Dada, um dos diretores da FAO para o tema climático, se reconhece a existência de um problema, “mas os compromissos não são suficientes nem as ações são adotadas de forma rápida o suficiente”. Oul-Dada também comentou a politização das negociações dizendo que “não deveria ser assim, porque isso concerne à sobrevivência de todos”.

https://www.valor.com.br/agro/5852317/acoes-para-reduzir-emissoes-na-agricultura-ainda-nao-sao-suficientes

 

REBANHO EUROPEU PRECISA CAIR À METADE PARA CONTER O AQUECIMENTO GLOBAL

Na semana passada, a RISE, uma fundação europeia que atua com temas rurais, publicou um relatório afirmando que a pecuária europeia ultrapassou os limites de segurança na emissão de gases de efeito estufa, na perda de biodiversidade e nos fluxos de nutrientes. A RISE recomenda que se comece a trabalhar para reduzir os rebanhos à metade até 2050. O trabalho vai na mesma direção do apresentado em março pelo Greenpeace em um relatório sobre carne na Europa e no relatório da GRAIN que foi publicado em julho. A RISE tem como patrocinadores e apoiadores Bunge, Syngenta, Acqua e BNP Paribas, dentre outros. Na matéria do Independent, é interessante a fala de Liam MacHale, secretário geral da associação de fazendeiros da Irlanda (IFA), quem acha que os fazendeiros estão sendo usados como bode expiatório climático: “A agricultura está levando a culpa, mas olhem para o comportamento do consumidor no setor de transporte. Ele precisa voar para fora para relaxar, (a despeito) das emissões associadas. Ninguém está fechando as companhias aéreas, mas vocês estão falando sobre a possibilidade de eliminar o setor da pecuária”.

http://www.risefoundation.eu/images/files/2018/2018_RISE_LIVESTOCK_FULL.pdf

https://www.independent.co.uk/news/science/europe-meat-dairy-production-vegan-2050-climate-change-a8539176.html

https://www.theguardian.com/environment/2018/sep/15/europe-meat-dairy-production-2050-expert-warns

 

COMO É DIFÍCIL REDUZIR AS EMISSÕES DA PRODUÇÃO DE CIMENTO

Se fosse um país, a produção de cimento seria o 3o maior emissor, atrás apenas da China e dos EUA. Ela e a produção de aço são as indústrias que mais emitem no mundo e cujas emissões são as mais difíceis de abater, embora por motivos diferentes. Aproximadamente metade das emissões de CO2 da fabricação do cimento vem da reação química que acontece no interior dos fornos. Cerca de 40% vem do aquecimento destes fornos a temperaturas acima de 1.200oC e, o restante, dos combustíveis queimados nas operações de mineração e transporte. As emissões desta última parte podem ser reduzidas pelo aumento da eficiência do processo e pela substituição de combustíveis. A parte complicada é a primeira. Até agora, a indústria cimenteira buscou reduzir as emissões substituindo o clínquer, precursor do cimento produzido nos fornos, por materiais que também dão liga, sem precisar passar pelo forno das cimenteiras. O problema é que os dois mais comuns, as cinzas da queima de carvão e a escória siderúrgica, devem ter sua produção reduzida ao longo do tempo.

Começam a aparecer materiais que substituem o cimento, mas ainda são muito caros. E tem gente projetando construções que demandam menos cimento. Um artigo do Carbon Brief traduzido pelo ClimaInfo aprofunda estas e outras linhas para a redução das emissões do cimento.

http://climainfo.org.br/2018/09/17/cimento-e-clima/

https://www.carbonbrief.org/qa-why-cement-emissions-matter-for-climate-change

 

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