Déjà vu? Petrobras troca de presidente pela 3ª vez neste ano

Petrobras

Parece piada, mas é melhor o governo instalar uma porta giratória no gabinete do presidente da Petrobras: pela 3a vez, apenas em 2022 (e ainda estamos só no quinto mês do ano), o Palácio do Planalto passou a guilhotina no comando da empresa petroleira. Sai José Mauro Coelho, que não ficou sequer 40 dias na cadeira de presidente, e entra Caio Mário Paes de Andrade, ex-secretário de gestão e desburocratização do ministério da economia.

Coelho tinha sido indicado em abril passado para substituir o general Joaquim Silva e Luna. Antes disso, o governo tentou designar Adriano Pires para a vaga, mas ele recusou por conta de conflitos de interesse com sua atuação como lobista do setor de óleo e gás. A indicação do ainda presidente da Petrobras foi feita pelo então ministro de minas e energia, Bento Albuquerque, que também perdeu a cadeira neste mês. Se confirmado, Paes de Andrade será o 3o presidente da Petrobras sob o atual governo federal – que empata com a gestão Collor entre as que tiveram maior rotatividade no comando da empresa.

A nova troca atende ao interesse do presidente da República de conter a alta do preço dos combustíveis, que pode atrapalhá-lo na corrida pela reeleição em outubro. Segundo informou Ana Flor no g1, o presidente quer que o novo chefe da Petrobras congele os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha até o final das eleições. Para que isso aconteça, o governo terá que mudar a forma como a empresa define sua política de preços: desde 2018, os reajustes são feitos de acordo com os valores do combustível no mercado internacional, além da variação cambial do dólar.

No UOL, Adriana Fernandes sugere que o governo tentará trocar o conselho da estatal também, para conseguir alterar a política de preços. Já Fábio Pupo detalhou na Folha a ideia do governo de colocar uma “trava” nos reajustes que envolveria um período mais longo entre um reajuste e outro, com a Petrobras assumindo parte dos custos de eventual encarecimento do petróleo e do gás natural.

Uma mudança na política de preços da Petrobras deve ser pessimamente recebida pelo mercado. Por um lado, refletirá a interferência política do governo federal em uma empresa que possui também acionistas privados, ainda que minoritários, com reflexo negativo no retorno financeiro desses investidores. Por outro lado, o congelamento dos preços dos combustíveis pode gerar o efeito contrário ao pretendido pelo governo: ao invés de mantê-los mais baratos, a medida pode disparar uma crise de desabastecimento, já que os importadores não terão interesse de comprar petróleo e gás natural pagando preços internacionais, mas vendendo por preços nacionais muito abaixo do mercado externo.

Um indicador importante para o humor dos investidores será exatamente a análise do novo nome do governo para o comando da Petrobras. Como assinalado por Folha e O Globo, Paes de Andrade não atende a todos os requisitos exigidos pela Lei de Estatais para assumir a presidência da petroleira: o indicado precisa ter experiência executiva mínima de dez anos na mesma área de atuação da empresa ou quatro anos em cargos públicos – e Paes de Andrade não tem nem um, nem outro. Em tese, isso impediria sua aprovação pelos comitês internos da Petrobras, mas o governo está disposto a ir para o ringue e derrubar, mesmo que no tapetão, qualquer restrição ao nome do ex-secretário de Paulo Guedes.

 

ClimaInfo, 25 de maio de 2022.

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