Financiamento e ambição, as “palavras mágicas” para o sucesso (ou o fracasso) das negociações climáticas

COP27 ambições
Alkis Konstantinidis

A agenda de negociação da próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP27), programada para novembro no Egito, certamente passará pelas duas pedras no sapato do processo de negociação nos últimos anos – o financiamento (ou melhor, a falta dele) para ações climáticas nos países em desenvolvimento e a ambição (idem) dos compromissos nacionais de mitigação sob o Acordo de Paris. Enquanto a discussão propriamente dita não começa, é interessante notar algumas notícias que nos dão um panorama, ainda que incompleto, do estado geral das coisas neste momento.

A Bloomberg trouxe uma informação importante: o governo da Índia está se preparando para finalmente revisar suas metas climáticas, depois de dois anos fugindo de qualquer cobrança por mais ambição. A justificativa do governo de Narendra Modi até aqui era de que os países deveriam estar dedicados aos compromissos já assumidos, e não em revisar essas promessas, especialmente à luz dos efeitos econômicos da pandemia. No entanto, ao que parece, a pressão internacional sobre Nova Deli está surtindo efeito. De toda forma, será interessante notar que tipo de compromisso será apresentado pelos indianos: novas metas de mitigação e encurtamento do calendário para a descarbonização total? Ou um monte de penduricalho que dependerá fundamentalmente de financiamento externo?

Já a Reuters destacou a boa recepção dos pequenos países insulares do Pacífico às promessas dos Estados Unidos para ampliar o financiamento para desenvolvimento econômico, defesa e ação climática. A vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, afirmou durante uma cúpula regional em Fiji nesta semana, que Washington pretende triplicar o financiamento para as ilhas do Pacífico para US$ 60 milhões anuais. O valor ainda é baixo, mas representa a promessa mais “gorda” já feita pelos EUA para a região, que se ressente pelos anos de “abandono” da diplomacia norte-americana. O Pacífico voltou ao tabuleiro geopolítico dos EUA por causa do avanço da China nesta região, como abordamos recentemente.

De toda maneira, o buraco mais profundo da agenda de negociação para a COP27 parece estar na questão do financiamento. O Guardian, por exemplo, trouxe o resultado de um estudo mostrando que os países da África, continente que menos contribuiu para a crise climática, terão que gastar até cinco vezes mais na adaptação ao aquecimento global do que em saúde. Por exemplo, na Eritreia, a expectativa é de que o país precise gastar mais de 22% de seu PIB em adaptação até 2030, muito acima do que planeja gastar com saúde (4,4%).

A Bloomberg, por sua vez, mostrou dados de uma análise do IIED que concluiu que o perdão da dívida externa dos países pobres pelos países mais ricos poderia liberar mais de US$ 400 bilhões para ajudar essas nações a enfrentar a mudança do clima. De imediato, a decisão liberaria cerca de US$105 bilhões, que hoje estão reservados para pagamento de dívidas e de juros de dívida externa. O restante poderia ficar disponível nos médio e longo prazos, vinculando dívidas atuais e futuras com metas climáticas.

 

ClimaInfo, 15 de julho de 2022.

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