Falta de acordo no G20 sobre declaração climática aumenta pessimismo para COP27

COP27 G20 sem acordo
Daniel Leal / Reuters

O “puxão de orelha” não poderia ser mais direto. Nesta 5a feira (1o/9), o presidente da COP26, Alok Sharma, acusou os países do G20 de “recuar” de seus compromissos climáticos ao não chegarem a um acordo sobre uma declaração acerca do tema. “O que vimos foi uma série de países retrocedendo nos compromissos que assumiram em Paris e em Glasgow”, disse o britânico à Reuters.

Ministros do meio ambiente das 20 maiores economias do mundo se encontraram nesta semana na ilha de Bali, na Indonésia, país que preside o G20 neste ano. No entanto, ao invés de renovar compromissos recentes em prol da ação climática, o encontro terminou com um fracasso diplomático constrangedor: objeções relativas à linguagem do texto sobre metas climáticas e a guerra entre Rússia e Ucrânia inviabilizaram qualquer entendimento.

“A menos que o G20 esteja disposto a agir de acordo com os compromissos que assumiram em Glasgow, temo que a perspectiva de manter [o limite do aquecimento global neste século] em 1,5oC ao alcance se esvai muito, muito rápido”, ressaltou o negociador britânico. “Os grandes emissores precisam olhar nos olhos desses países vulneráveis ao clima e dizer que estão fazendo absolutamente tudo o que podem para cumprir os compromissos que assumiram”.

O constrangimento também caiu mal para a Indonésia, que tem a tarefa indigesta de encabeçar as conversas do G20 neste ano. Esse desafio já seria trabalhoso em um contexto de “normalidade”; no entanto, com a crise energética e a guerra no leste europeu, o trabalho ficou hercúleo para os indonésios. Ainda assim, ativistas do país também apontam para problemas domésticos na ação climática do governo de Jacarta. O Climate Home destacou a pressão sobre as autoridades da Indonésia, especialmente pela insuficiência dos compromissos assumidos pelo país sob o Acordo de Paris e sua vulnerabilidade crescente aos eventos climáticos extremos.

A questão da vulnerabilidade, aliás, deve ganhar destaque na agenda da próxima COP no Egito. Com a intensificação de eventos extremos em diversas partes do globo, especialmente nos continentes mais pobres e menos preparados para isso, os países vulneráveis querem que os governos desenvolvidos finalmente abordem o tema de compensação por perdas e danos. Nos últimos anos, essa discussão ficou “engavetada” enquanto os negociadores se debruçaram sobre a implementação do Acordo de Paris. Agora, como ressaltado pelo Mongabay, os países pobres entendem que chegou a hora de Perdas e Danos virarem um tema prioritário para as negociações da UNFCCC.

Em tempo 1: A Agência Pública destacou a mobilização de grupos indígenas brasileiros para participar da COP27 no Egito em novembro. Um dos focos de atuação neste ano será a cobrança pelo cumprimento da promessa de doação de US$ 1,7 bilhão, feita pelos governos de EUA, Reino Unido, Alemanha, Noruega e Países Baixos, na COP de Glasgow. Passado quase um ano, esses países ainda não deram detalhes de como esses recursos vão chegar às comunidades indígenas para apoiar ações de conservação florestal e desenvolvimento sustentável.

Em tempo 2: Ainda sobre a COP27, Renato Grandelle escreveu na Página22 sobre o ponto de interrogação que a diplomacia brasileira pode se tornar em Sharm el-Sheikh. Noves fora o ostracismo internacional experimentado pelo país durante o governo Bolsonaro, motivado pela escalada da destruição florestal e dos ataques aos Povos Indígenas, um problema central para a posição brasileira na próxima COP é o resultado das eleições presidenciais de outubro. Caso tenhamos 2º turno, a definição do próximo presidente será conhecida apenas na semana anterior à abertura da Conferência. Ou seja, os diplomatas do Itamaraty terão pouco tempo para malear ou adaptar sua retórica e posicionamento aos resultados da eleição presidencial.

 

ClimaInfo, 2 de setembro de 2022.

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