EUA preparam terreno para ação climática doméstica e querem retomar diálogo com a China

John Kerry geopolítica

Faltando pouco mais de dois meses para a Conferência do Clima de Sharm el-Sheikh (COP27), o governo dos Estados Unidos quer levantar a bandeira branca para seus colegas na China, para que os dois países possam retomar o diálogo e a cooperação na questão climática. No último mês, Pequim rompeu todos os acordos de colaboração bilateral com Washington como retaliação pela visita da presidente da Câmara norte-americana, Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan.

Em entrevista à Bloomberg, o enviado especial da Casa Branca para o clima, John Kerry, reforçou o desejo do governo Biden de reiniciar as conversas com os representantes chineses antes da COP27. “Minha esperança é que o presidente Xi Jinping reconheça o benefício de nos movermos na mesma direção. O mundo precisa ver esses dois países poderosos realmente trabalhando juntos”. O ex-secretário de estado da gestão Obama também destacou a necessidade de os países avançarem na transição para fontes renováveis de energia no contexto da alta recente dos preços dos combustíveis fósseis, motivada em grande parte pelos reflexos da invasão russa à Ucrânia.

Enquanto isso, Joe Biden arruma a casa antes de colocar em ação o pacote climático aprovado no último mês em Washington, com duas mudanças importantes na sua equipe – a saída de Gina McCarthy do posto de conselheira climática da Casa Branca e a chegada de John Podesta como consultor sênior do governo para inovação em energia limpa. Como assinalado pelo NY Times, McCarthy sai “por cima”, com uma vitória legislativa importante para chamar de sua; já Podesta, que também atuou como coordenador da campanha de Hillary Clinton à presidência dos EUA em 2016, terá como desafio tirar os investimentos previstos de US$ 370 bilhões do papel nos próximos anos.

Sobre a COP27, a Associated Press destacou a nova rodada de promessas dos países desenvolvidos para apoiar no financiamento climático das nações africanas. Nesta 2a feira (5/9), representantes diplomáticos confirmaram cerca de US$ 25 bilhões em recursos para adaptação climática nos países africanos até 2025, por meio do Programa de Aceleração da Adaptação na África. Metade do valor é prometido pelo Banco Africano de Desenvolvimento, com apoio do FMI e de países como Dinamarca, Reino Unido, França e Países Baixos.

Em tempo: A constituição verde proposta pela assembleia constituinte no Chile foi sonoramente rejeitada pelo referendo realizado no último domingo (4/9). A bem da verdade, os aspectos “verdes” do texto não foram o principal problema na visão da maioria dos eleitores, ao menos de acordo com as pesquisas. Ainda assim, a negativa dos chilenos ao texto dificulta uma possível inclusão desses pontos em novo texto a ser definido nos próximos meses. “É uma gigantesca oportunidade perdida de avançar na ética ambiental e em uma sociedade mais ecológica”, lamentou o ex-senador Guido Girardi, citado pelo Climate Home. Um dos pontos que certamente devem cair é a definição de limites para a operação da indústria de mineração, uma das mais fortes dentro da economia do Chile. Associated Press, Bloomberg, Financial Times e Reuters também repercutiram a notícia.

 

ClimaInfo, 6 de setembro de 2022.

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