A farra dos lobistas do agro e do petróleo na COP27

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UNFCCC COP27 Flickr

Os corredores da Conferência do Clima de Sharm el-Sheikh (COP27) não foram ocupados apenas por negociadores, jornalistas e observadores. Neles, circulou também um contingente bastante expressivo de lobistas dos mais variados setores econômicos, inclusive daqueles que menos têm interesse em resolver a crise climática: o agronegócio industrial e o Big Oil.

No UOL, Cinthia Leone contou como essa turma aproveitou o acesso ao espaço oficial de negociação – em muitos casos, dado pelos próprios governos, que concederam credenciais oficiais a esses lobistas – para pressionar contra qualquer compromisso ou palavra que colocasse em risco seus interesses econômicos no texto final da COP.

Por razões óbvias, as empresas de combustíveis fósseis tiveram uma atuação mais destacada, beneficiada pelo apoio político de governos amigos, como os da Arábia Saudita e o do próprio anfitrião da COP, o Egito. Já a turma agro focou no enfraquecimento das recomendações da força-tarefa de Koronivia, montada há cinco anos para pensar como intensificar medidas de mitigação na agricultura.

“A influência da indústria de combustíveis fósseis foi observada em todos os setores, e esta COP enfraqueceu as exigências para que os países assumam metas novas e mais ambiciosas”, criticou Laurence Tubiana, uma das principais articuladoras do Acordo de Paris. “A Presidência egípcia [da COP27] produziu um texto que protege claramente os estados petroleiros e a indústria fóssil”.

Em tempo 1: Vale a pena ler a síntese de Joe Lo e Chloé Farand no Climate Home sobre a reta final da COP27 e a maneira rápida e confusa como as negociações terminaram em Sharm el-Sheikh. Até a madrugada de sábado (19/11), as coisas caminhavam para um desastre diplomático não visto desde a hecatombe política de Copenhague em 2009. No entanto, a angústia com a perspectiva de um fracasso (mais o cansaço nítido dos negociadores ao final) fez com que a Presidência egípcia tomasse uma injeção de seriedade e fizesse em algumas horas aquilo que tinha sido incapaz de fazer em duas semanas: puxar a negociação para uma conclusão política minimamente adequada. 

Em tempo 2: Ainda sobre a COP27, Bob Berwyn fez uma análise bem mais crítica e ácida sobre o desenrolar das negociações climáticas deste ano no Inside Climate News. A desconexão entre discursos e posições, o ambiente angustiante de uma COP sob um regime ditatorial, a presença massiva da indústria fóssil, o espaço limitado da sociedade civil e dos países mais vulneráveis: tudo isso tornou a experiência de Sharm el-Sheikh digna de uma miragem esquisita no deserto. “Em meio a lutas por croissants e clima, a COP27 refletiu um mundo que não consegue se unir para se livrar dos combustíveis fósseis e evitar um futuro catastrófico”.

 

ClimaInfo, 25 de novembro de 2022.

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