O desafio de interromper o ciclo do petróleo com a velocidade que o planeta precisa

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NORSK

O baixíssimo crescimento das emissões globais do setor de energia entre 2021 e 2022, de 0,9%, verificado pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) foi um sopro de esperança para o clima do planeta. E, com a notícia de que a capacidade instalada de fontes renováveis cresceu quase 10% no ano passado, a expectativa de que as emissões de energia possam estar próximas do pico, como apontou a IEA, aumentou ainda mais. Assim, por um momento, conseguimos esquecer que os subsídios aos combustíveis fósseis bateram recorde em 2022.

Entretanto, movimentos recentes em prol da exploração de petróleo e gás natural – como o projeto Willow, no Alasca, aprovado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden – jogaram um balde de água fria em quem acreditava que a “virada” definitiva para fontes limpas havia chegado. 

Afinal, como confirmou o novo relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), divulgado nesta 2ª feira (20/3), a queima massiva de combustíveis fósseis aumentou a temperatura do planeta em 1,1oC desde a Revolução Industrial. E está nos levando ao abismo das mudanças climáticas.

“Nós não vamos nos livrar do petróleo tão rapidamente assim. Isso é uma constatação, não só do Brasil, mas do planeta”, disse Moacyr Araújo, coordenador científico da Rede Clima – Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas. Ele ponderou que é preciso “fazer muito esforço para diminuir a matriz fóssil”, porque o petróleo é também fonte da indústria petroquímica. E cerca de 10% da produção desse setor são focados em plástico. Número que deve chegar a 20% até 2050, segundo estimativas do especialista relatadas pela Folha.

Um exemplo dessa dificuldade vem da vizinha Colômbia. Apesar da promessa do presidente Gustavo Petro, que tomou posse há sete meses, de encerrar a exploração de hidrocarbonetos, a indústria petrolífera colombiana ganhou papel crucial na economia do país, após décadas de guerra civil e violência alimentada pela cocaína, frisa o Oilprice.com. A Colômbia se tornou o terceiro maior produtor de petróleo da América Latina, atrás de Brasil e México.

Enquanto isso, nos EUA, o governo estadunidense tenta reduzir o impacto de Willow, mas o projeto, que tem reservas estimadas em 600 milhões de barris de petróleo, está a caminho da operacionalização. Segundo cálculos da própria Casa Branca, durante seus 30 anos de produção, Willow deverá emitir quase 280 milhões de toneladas métricas de CO2, lembra o Oilprice.com. Por isso, continua a movimentação de ambientalistas e ativistas para impedir a partida do projeto.

Em tempo: No Brasil, a Petrobras tenta, desde o ano passado, autorização para perfurar um poço de exploração no litoral do Amapá, na Bacia da Foz do Amazonas. Entretanto, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) solicitou informações adicionais sobre o plano da petroleira, antes de permitir um simulado de emergência na região, informa a Reuters. A Foz do Amazonas integra a margem equatorial, faixa marítima que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá, e que é vista pela Petrobras como uma nova fronteira exploratória, onde a companhia pretende encontrar novas reservas de petróleo e gás.

A região, porém, é de alta sensibilidade ambiental, e a exploração de petróleo ali – como quer a Petrobras – é criticada por ambientalistas e especialistas.

ClimaInfo, 22 de março de 2023.

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