
A Polícia Federal concluiu na última 6ª feira (1º/11) o inquérito sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari (AM), ocorridos em junho de 2022. Segundo a investigação, o crime foi encomendado por Rubén Dario da Silva Villar, vulgo “Colômbia”, como resposta às atividades de fiscalização ambiental de Pereira, que estariam prejudicando os interesses de grupos criminosos associados à pesca ilegal no território.
Segundo a PF, o crime foi cometido pelos pescadores Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”; Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”; e Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”. Em 5 de junho de 2022, depois de visitarem uma comunidade de pescadores, Bruno Pereira e Dom Phillips viajavam de barco no rio Itaquaí em direção à Atalaia do Norte quando foram alvejados pelos criminosos. Os corpos só foram encontrados dez dias depois, quando Pelado confessou o assassinato.
Além de encomendar as mortes, Colômbia também forneceu os cartuchos das armas utilizadas no duplo-homicídio, patrocinou financeiramente as atividades da organização criminosa e ajudou na coordenação da ocultação dos cadáveres das vítimas. O motivo do crime seria o fato de Bruno Pereira atuar junto com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) na fiscalização ambiental da Terra Indígena Vale do Javari, onde o grupo de Colômbia explorava a pesca ilegal.
Além de Colômbia e dos três agressores, outras seis pessoas também foram indiciadas pela PF. Amarildo e Jefferson aguardam julgamento por júri popular. Já Jefferson ainda espera a definição do Superior Tribunal de Justiça sobre a denúncia oferecida no ano passado pelo Ministério Público Federal. Todos os indiciados seguem presos.
O mandante das mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips também pode ser indiciado por outro assassinato de um ex-servidor indigenista ocorrido há cinco anos. Como O Globo destacou, Colômbia é suspeito de ter encomendado a morte de Maxciel Pereira dos Santos em setembro de 2019 no centro de Tabatinga (AM). A PF apura se Colômbia teria contratado os pistoleiros responsáveis pelo crime. A motivação seria a mesma: contrariedade de grupos criminosos com a atuação de Maxciel em defesa dos Povos Indígenas do Vale do Javari.
No ano passado, a PF também indiciou o ex-presidente da FUNAI, Marcelo Xavier, por homicídio doloso no caso Bruno e Dom. Segundo a PF, Xavier tinha conhecimento sobre a realidade e os riscos que agentes da FUNAI e comunidades indígenas sofriam no Vale do Javari, mas não tomou qualquer medida que mitigasse o risco de violência. Ex-delegado da própria PF, Xavier era nome próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
As conclusões da PF sobre as mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips tiveram grande repercussão na imprensa, com matérias na Agência Brasil, CartaCapital, CNN Brasil, Estadão, Folha, g1, O Globo, Metrópoles, UOL, Valor e VEJA, entre outros.
Em tempo: A violência contra agentes socioambientais na Amazônia é um problema crônico, reflexo da ausência do Estado e da instrumentalização do poder político local por grupos interessados em atividades ilícitas na floresta. Em uma entrevista surpreendente à Agência Pública, o ex-presidente do sindicato rural de Novo Progresso (PA) reconheceu sem pudores o ódio às organizações não governamentais de meio ambiente que atuam na região amazônica e descreveu um plano para sequestrar e matar um funcionário da FUNAI para impedir a demarcação da Terra Indígena Baú no começo dos anos 2000.